sábado, 30 de outubro de 2021

PODER, ESTADO E BIG TECHS (TOSTA NETO)

A História atesta a incomensurável sedução que o poder exerce na humanidade. A priori, devo mencionar o clássico 1984, cujo olhar panorâmico do Big Brother, o Estado, é tão poderoso que devassa até a vida privada do indivíduo. Quiçá o aparato estatal da obra de George Orwell não tenha o alcance das Big Techs. Por ora, não abordaremos o poder das gigantes de tecnologia, outrossim, efetuaremos uma concisa reflexão sobre um dos conceitos mais pesados na filosofia política: o Estado. O poder do Estado-Nação gerado e ratificado na Europa Absolutista, foi remodelado no contexto da Revolução Francesa e da 2ª fase da Revolução Industrial, ademais, houve a ampliação deste nas experiências totalitárias do século XX, haja vista o socialismo, o fascismo e o nazismo.

Apesar dos pesares, é difícil conceber o meio social sem a máquina estatal, a qual detém o controle jurídico e o monopólio da violência; estas condições, se forem intensificadas de forma exagerada, transformarão o Estado em um Frankenstein que assassinará o seu próprio criador. Por sinal, simpatizantes e escravos do totalitarismo veem o Estado como o “salvador da Pátria” e o paladino da justiça social. A propósito, no nosso fagueiro e triste Brasil, impera a mentalidade estatista, onde qualquer proposta de diminuição do tamanho do Estado é vista como um sacrilégio. Nas terras brasilis, a privatização é uma espécie de oitavo pecado capital.

No século XXI, o Estado continua forte, todavia atrevo-me a sinalizar que o mesmo não tem a envergadura das Big Techs; ei-las: Google, Facebook, Apple, Amazon e Microsoft. Subsequente ao impacto dos e-mails, presenciou-se a expansão do Orkut e do MSN, porém nada comparável à abrangência do Facebook, WhatsApp e Instagram. Não esqueçamos da grandiosa influência da Google, proprietária do popular sistema operacional Android e do “universal” YouTube. Além disso, quando se fala em consulta sobre qualquer assunto em site de pesquisa, o nome que suscita na mente é o Google. Nestes tempos hodiernos, as Big Techs ocupam um papel quase onipresente na sociedade, logo não é prudente pensar as relações humanas sem tais mecanismos.

Prezado Internauta, discutamos também o acúmulo de poder destas gigantes, veja o exemplo de Mark Zuckerberg, que é dono do Facebook, WhatsApp e Instagram. Eis um monopólio de poder econômico que pode ser tranquilamente estendido ao plano ideológico. A História nos mostra o quão é execrável e nefasta a concentração de poder. Agora, analisaremos a questão econômica. Basta uma simples pesquisa no navegador acerca de determinado produto para que o story e o feed do Instagram sejam inundados de anúncios de empresas-parceiras. Esta é mais uma fortíssima evidência do quão somos mapeados por algoritmos que nos induzem a comprar cada vez mais, recrudescendo o poder econômico das Big Techs.

Presentemente, a nossa sociedade tem o ciberespaço como uma dimensão deveras importante. Às vezes, para alguns internautas fervorosos, o mundo virtual suplanta o mundo real, os quais criam um alterego que objetiva exibir a imagem heroica de humanista devotado à defesa enfática de todos os “oprimidos” do Universo. Inclusive, no âmbito virtual, há um padrão ideológico dominante que é apresentado como o único caminho a ser seguido; aquele que se atrever a transgredi-lo será cancelado e perseguido pelo Tribunal das Redes Sociais. É insofismável que o debate público dá-se nas redes sociais, fenômeno que tirou o monopólio de opinião e informação da televisão. No geral, a audiência dos canais de TV está caindo, pois as pessoas ficam mais tempo no celular do que na televisão. Para mitigar tal efeito negativo, os canais em questão estão a adentrar o mundo das redes e das plataformas de streaming.

Por fim, regressemos ao título deste singelo artigo: Poder, Estado e Big Techs. Ilustre Leitor, faremos uma reflexão enveredada para uma condição hipotética: e se o poder do Estado se atrelasse às Big Techs? Claro que tal situação não foi consumada pelo fato das gigantes de tecnologia serem empresas privadas, embora já testemunhamos os tentáculos estatais atingindo-as de forma pontual. Citemos alguns exemplos oportunos: a censura do Estado aos internautas que apresentam opiniões dissonantes que desafiam o status quo ideológico, fator que fere o princípio sagrado da liberdade de expressão; na pandemia, a Google foi obrigada a enviar ao Estado a geolocalização de cidadãos em função da incumbência obtusa de guarnecer o isolamento social. Talvez a união supracitada não seja uma mera especulação. Se houver o fortalecimento do elo entre o Estado e as Big Techs, observaremos o surgimento de um aparato estatal mais poderoso que o Leviatã de Thomas Hobbes. Aguardemos o tempo histórico para engendrar uma avaliação mais robusta. Oxalá que o Estado não se beneficie da riquíssima gama de informações privilegiadas das Big Techs.

(Tosta Neto, 30/10/2021)

 

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