O Brasil está passando por uma abissal
crise moral, cuja essência se localiza no fulcro dos partidos políticos. Um
sentimento de pessimismo paira no ar. A descrença sobre a capacidade de
governança dos nossos representantes atingiu um nível incalculável. A corrupção
se tornou regra dos partidos e tema frequente nas redes sociais. No Brasil, a
corrupção foi naturalizada, equivalente ao nascer do sol, ao calor, ao vento, à
chuva...
Há uma sublevação das mentalidades contra
os infindos casos de corrupção. O ceticismo político se enraizou na opinião
pública, caindo num fatalismo que aponta a impossibilidade de resolução dos
problemas sociais. A insatisfação é tão impactante que os combatentes da
corrupção foram elevados à categoria de heróis, haja vista a aclamação popular
a Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, ícones do Poder Judiciário que angariaram a
fama de justiceiros do povo brasileiro.
O julgamento do “Mensalão” e a “Operação
Lava Jato” refletem um pouco a solidez enquanto instituições do Ministério
Público, da Justiça e da Polícia Federal, porém, o governo da Dilma
propagandeia com conjecturas cheias de vacuidade que tem combatido a corrupção
“como nunca antes na história deste país”. Aprendi com Montesquieu que a única
instância habilitada para investigar e julgar a aplicação correta das leis é o
Poder Judiciário. Talvez, na “República dos Abacaxis” da Dilma, o Poder
Executivo tenha funções judiciárias.
Voltemos à temática central. Os partidos
não conseguem mais captar os anseios e dilemas da população. As pessoas não se
sentem representadas pelos políticos; eis o atestado de decadência da
democracia representativa no Brasil. O nosso sistema político tem uma
quantidade absurda de partidos que visam apenas “sugar” o leite e o sangue das “tetas”
do fundo partidário. No final das contas, os partidos brasileiros estão
igualados no magma da mediocridade e do oportunismo. É mister uma reciclagem
drástica da nossa conjuntura partidária, todavia, seus componentes estão mui
preocupados com a manutenção do status
quo.
Na contramão da falência dos partidos
políticos, a “presidenta” aceitou sem vetos a proposta de triplicação do fundo
partidário, cujo seu partido será o principal beneficiado por ter a maior
bancada na Câmara dos Deputados. De forma conveniente, esta medida foi acatada
pela “presidenta” justamente quando o PT alega que não aceitará mais doações de
empresas. Eu tenho certeza que o sacrossanto PT cumprirá com fervor religioso
essa promessa. Enfim, qual é o porquê de tamanha benevolência da Dilma com as
legendas políticas? A resposta é muito simples: cooptar o apoio dos
parlamentares, uma espécie de clientelismo pós-contemporâneo. Esta benevolência
só ratifica o presidencialismo de coalizão costurado a partir de retalhos
espúrios e promíscuos entre o Poder Executivo e os degradados partidos
políticos.
Tosta Neto, 22/04/2015
Tosta Neto é Escritor e Historiador, Colunista do Outro Olhar Amargosa. |
Reflexão bastante oportuna e inteligente sobre o estado de coisas em que o "nosso" país se encontra. Uma crise moral e ética sem precedentes e que, no entanto, muitos consideram simplesmente "a regra" do jogo político. Alguns dizem que "isso sempre existiu e que só agora as coisas estão aparecendo", então devemos aceitar o banditismo como norma devido a um passado infame e a uma cultura que sempre romantizou o "jeitinho brasileiro" de ser? Então será essa a lógica, do tipo, "se antes roubavam, e por que não podem roubar agora"? É preciso pensar que não podemos mudar o passado, mas sim o futuro! Evidentemente ocorreram erros anteriormente, mas isso não justifica a repetição e, muito pior, a multiplicação descomunal de diversos equívocos (também chamados de corrupção e uma profunda ausência de ética). Sei que mudanças mexem com paixões e cortes na própria carne, porém, como disse certa vez o escritor Fernando Teixeira de Andrade: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
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