sábado, 26 de março de 2016

Planilha da Odebrecht: de ‘Caranguejo’ a ‘drácula’

Os personagens da planilha da Odebrecht - Arte O Globo / Ilustração

Planilha da Odebrecht: de ‘Caranguejo’ a ‘drácula’

Vários políticos são tratados por apelidos em documento apreendido


De O GLOBO
POR RENATO ONOFRE,
CLEIDE CARVALHO E TIAGO DANTAS 24/03/2016

SÃO PAULO — As planilhas apreendidas com um alto executivo da Odebrecht mostram que os principais políticos brasileiros eram tratados entre a cúpula da empresa por apelidos inusitados. O todo poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem nas mãos o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, era tratado como "Caranguejo", crustáceo conhecido por andar sempre de lado, nunca para a frente. A lista não perdoa ninguém. Tem ministro chamado de "Passivo" e ex-governador apelidado com nome de mercador de escravos de blockbuster americano.

Os documentos foram apreendidos em um dos endereços do executivo da empreiteira Benedicto Barbosa Júnior e anexados, nesta quarta-feira, ao indiciamento do marqueteiro João Santana. Os dados mostram supostas doações feitas pela empresa. A lista ficou poucas horas no ar. Ao perceber que havia muitos políticos com foro privilegiado, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo sobre as planilhas.

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes, é chamado de "Nervosinho". Recentemente, Paes se envolveu em uma polêmica em um hospital no Rio de Janeiro onde foi acusado de ter sido "grosseiro", como registra o livro de ocorrência da unidade médica. O prefeito teria gritado "de forma ríspida" com uma médica que atendia seu filho.

Além dele, há outros 29 políticos numa lista com quase 200 nomes que ganharam alcunha dos funcionários da empreiteira. O ex-senador e ex-presidente José Sarney (AP) era chamado de "Escritor". O nome é uma referência clara à veia literária do político maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de livros como "Marimbondos de Fogo" e "Do Mar".

O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), é "Proximus", um personagem do filme americano "Gladiador", lançado em maio de 2000. Proximus era um mercador especializado em comprar e treinar escravos para lutas de gladiadores na Roma antiga. Ele ajuda o general "Maximus", personagem do ator australiano Russell Crowel, a ir a capital italiana matar o imperador. Outro político fluminense, o deputado estadual Jorge Picciani, do mesmo PMDB, é chamado de "Grego".

A lista conta também com integrantes do governo federal como o ministro-chefe do gabinete da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner, chamado pelos executivos da Odebrecht de "Passivo". Outros petistas também estão na lista: os senadores Lindbergh Farias (RJ) e Humberto Costa (PE) são, respectivamente, o "Lindinho" e "Drácula". O presidente do Senado, Renan Calheiros, era o "Atleta".

Outros apelidos aparecem como o da deputada estadual Manuela d'Ávila (PCdoB-RS), chamada de "Avião". Jarbas Vasconcelos Filho é o "Viagra" e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o "Múmia".

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Os investigadores da Lava-Jato ainda não interpretaram os motivos que levaram altos executivos da Odebrecht a usar apelidos para se referir a alguns dos principais políticos da atualidade. Ao lado de cada codinome, há referências de doações - oficiais ou não - feitas aos políticos.

A última fase da Operação Lava-Jato, que aconteceu na terça-feira e foi batizada de "Xepa", mostrou que o uso de codinomes era comum na empreiteira. A Polícia Federal descobriu um sistema informatizado usado para controlar propinas que usava codinomes para ocultar o real recebedor dos recursos ilícitos.

Até agora, não há indicativo, pelo menos tornado público, de quais políticos estão na planilha da propina. O único já identificado foi o marqueteiro das campanhas do PT, João Santana, apelidado de "Feira".

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