quinta-feira, 18 de julho de 2019

DEPRESSÃO E DIFICULDADES FAZEM PROFESSOR COM MESTRADO MORAR NAS RUAS DO RIO

Quando precisa chorar, o professor de ciências sociais, poeta e escritor Marcelo Henrique Marques de Souza procura o lugar mais ermo de um trecho sossegado da Avenida Maracanã, próximo à Praça Xavier de Brito, na Tijuca. Sofrendo de depressão, ele, que é mestre em comunicação, vive há um ano numa calçada da avenida, num cantinho formado pelo encontro das grades de dois prédios vizinhos. Morar nas ruas, como ele diz, é “muito terrível”.
Às vezes, dá vontade de chorar. Como sou homem, se me veem assim, acabam me roubando. Não se pode chorar: é preciso fazer sempre cara de mau. A rua é uma selva — disse Marcelo, que tem 44 anos, na noite da última segunda-feira.
Com febre, ele se recupera de uma sinusite alérgica, sentado numa cadeira de escritório (que, gentil, oferece à repórter), cercado de bolsas plásticas com alguns poucos alimentos e roupas. Enquanto isso, assiste, pelo celular, a uma conferência do escritor português Gonçalo Tavares. Apesar da barba feita, os pés muito sujos denunciavam a sua situação — desde o dia anterior ele não tomava banho. Ex-professor de escolas particulares da região, em matérias como filosofia, literatura e redação, com mestrado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (o Programa de Pós-graduação em Comunicação confirma o título) e autor de oito livros (quatro pela Editora Multifoco), ele passa dias e noites ali, lendo e vendo vídeos no Youtube por um telefone que ganhou de uma ONG.
Numa mochila, Marcelo guarda documentos e os livros que lê no momento. Um deles é “Estorvo”, de Chico Buarque, em que o protagonista e narrador é um desajustado, com sentimento de abandono e solidão. Outro é “A República Mundial das Letras”, de Pascale Casanova, que, como explica Marcelo, faz o mapeamento da história da literatura sob uma visão geopolítica. Ainda carrega “Ilusões Populares e a Loucura das Massas”, de Charles Mackay.
— É um livro sobre psicologia popular e o delírio coletivo ao longo da história — conta ele, que conversa com desenvoltura sobre literatura e filosofia, num papo cabeça cheio de referências a escritores e filósofos, como o alemão Hegel e o esloveno Slavoj Zizek.
Um tema que também lhe é caro é a psicanálise. Por isso, reconhece sua condição: ele afirma que sofre depressão desde 2007, quando foi despejado de um confortável apartamento na Tijuca. A morte do avô paterno, que o amparava, o deixou em situação financeira difícil. Criado nas redondezas da Praça Xavier de Brito, Marcelo, que surfava e jogava futevôlei, vem de uma família de classe média. Sem dar detalhes, conta apenas que não sabe onde está a mãe e que não fala com o pai, que viveria em Brasília, desde os 15 anos. Um irmão morreu, e outro moraria com o pai.
Marcelo afirma que não usa drogas e só bebe, uma cervejinha, socialmente. A depressão se aprofundou com o fim de relacionamentos (ele nunca casou, nem teve filhos), sem contar um sentimento quase constante de perseguição.De acordo com a defensora pública Carla Beatriz Nunes Maia, do núcleo de Direitos Humanos, Marcelo é mais uma das pessoas de classe média a parar na rua, por diferentes motivos: ela diz que anos atrás esse perfil não existia.
Fonte: O GLOBO
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