Em Amargosa, por exemplo, 353 casas vieram abaixo. No povoado de Tartaruga apenas a capela do lugar conseguiu resistir à força do vento que foi capaz de desabrigar as 800 pessoas que moravam por lá. O rio que banha o município, o Ribeirão, arrastou tudo que estava à sua frente, inclusive pessoas, depois de subir 1,5 m acima do normal.
Na localidade de Corta Mão, 300 moradores foram levados pelas correntezas, como noticiou o Jornal do Brasil (RJ), na edição do dia 17. Calcula-se que, à época, cerca de 20 pessoas morreram com as enchentes e várias outras sofreram com um surto de tifo.
Por ali, as chuvas se arrastaram durante dias e as estradas de ligação até os municípios do Vale ficaram intransitáveis. As informações que chegavam à capital baiana davam conta de que caminhoneiros permaneciam ilhados nas estradas de lama.
Por ali, as chuvas se arrastaram durante dias e as estradas de ligação até os municípios do Vale ficaram intransitáveis. As informações que chegavam à capital baiana davam conta de que caminhoneiros permaneciam ilhados nas estradas de lama.
Os moradores de Amargosa, Lajes, Milagres, Jiquiriçá e Ubaíra sentiram a amargura da fome e do frio e penaram à própria sorte sem nenhum meio de comunicação com o Recôncavo, já que todos os telégrafos foram destruídos.
A notícia do desastre, que também aconteceu na região do Vale do São Francisco, se espalhou por todo o país. Do Rio de Janeiro, foram enviados dois aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para socorrer os flagelados. As aeronaves chegaram a Salvador e precisaram fazer duas viagens para atender todas vítimas. Uma delas chegou a Amargosa no dia 16, em voo rasante, despejando agasalhos, remédios e alimentos à população.
Amargosa
As chuvas chegaram num péssimo momento, quando a cidade já não desfrutava dos tempos de ouro de outrora. No início do século XX, Amargosa ostentou o título de “pequena São Paulo” por ser um elevado polo regional de economia cafeicultora. Havia, inclusive, uma casa de café com sede na cidade e franquia em Paris, na França.
“Já havia um declínio da economia, a produção do café já não era tão forte como antes e a cidade enfrentava uma certa crise. Mas digo que na década de 60 a questão da educação era muito forte. Havia um colégio particular das religiosas sacramentinas que formavam professoras e tinha também um seminário. Vinham pessoas de muitos lugares. No colégio Santa Bernadete, por exemplo, estudaram meninas de 51 municípios da Bahia”, contou o professor e historiador Miguel José da Silva.
Chuvas
Não se sabe, no entanto, o quanto choveu durante aquela semana fatídica de destruição. Isso porque, de acordo com a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Cláudia Valéria, no país, há poucas estações meteorológicas centenárias. Em Amargosa, a estação do instituto foi implantada somente em 2008.
Mas o que se pode afirmar é que março é um dos meses mais chuvosos da região, com base em dados pluviométricos dos últimos trinta anos, período utilizado como parâmetro pelo meteorologistas. Até este domingo (8), por exemplo, já havia chovido 70 mm, ou mais da metade das chuvas do mês de janeiro, quando as precipitações atingiram 90 mm.
“O período chuvoso de lá é o mesmo da faixa litorânea, usamos Salvador como referência. Amargosa tem, do nosso ponto de vista climatológico, as características do Recôncavo baiano. O período chuvoso se estende de março, segue todo o Outono até o início do Inverno”, explicou.
Sessenta anos depois, as chuvas voltaram e continuam caindo por lá desde quinta-feira (5), contribuindo para temperaturas mais amenas que podem chegar a 21°C. Mas diferente do século passado, elas estão mais generosas e trazem consigo apenas raios e trovões, o que é comum nesta época do ano. Por lá, elas permanecem, segundo previsão do Inmet, até a próxima quinta-feira (12), acompanhadas de ventos fracos e moderados que sopram do Sudeste em direção ao Nordeste.
*BOCÃO NEWS
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