quarta-feira, 15 de abril de 2020

DECRETO DA PREFEITURA DE BH DEIXA PACIENTES DO INTERIOR SEM TRATAMENTO

Decreto da prefeitura de BH deixa pacientes do interior sem ...
Há mais de duas décadas, Zélia Maria do Carmo, de 60 anos, luta contra um câncer de pele que se espalhou para a mama, intestino, ossos e arcada dentária. Diariamente, ela toma 52 comprimidos de um coquetel de quimioterapia para tratamento. São 26 pela manhã e 26 à noite, mas as pílulas acabaram ontem e ela não sabe quando conseguirá pegar uma nova medicação. Isso porque Zélia é moradora do município de Coronel Fabriciano e faz os tratamentos e consultas a cerca de 200 quilômetros dali, em Belo Horizonte, onde a prefeitura restringiu o acesso de veículos de outras cidades.
“Eu teria que ter ido ontem para fazer uma avaliação com um cirurgião oncológico e para pegar novos medicamentos. Só eu posso pegar. Eu preciso assinar os papéis”, conta. Como não tem carro, ela conta com o apoio do poder público de sua cidade para ir, pelo menos quatro vezes por mês à capital mineira. “O microônibus da prefeitura me pega em casa, entre meia-noite e meia-noite e meia. Eu não vou para passear. Eu nem conheço o shopping da capital.”, diz a dona de casa, que faz tratamento em três unidades de saúde da capital: no Hospital da Baleia, na Santa Casa de Misericórdia e no Hospital São Francisco de Assis.
A prefeitura da capital mineira, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, afirmou que, por conta da pandemia da COVID-19, a restrição de circulação na cidade segue valendo para ônibus oriundos de municípios que não estão adotando as regras de isolamento social. Caratinga, Inhapim e Coronel Fabriciano são cidades que reabriram parte do comércio e estão enfrentando o bloqueio de ônibus intermunicipais de passageiros vindos dessas cidades. 
Zélia admite estar desesperada com a situação porque não possui outros meios de chegar à capital. “Ontem à noite, eu liguei para uma funcionária do hospital para ver se podem me mandar os medicamentos pelos Correios”, conta. A situação não é isolada: no momento, o município possui 112 pacientes e 68 acompanhantes que precisam entrar em Belo Horizonte utilizando o transporte coletivo para realizar tratamentos de saúde, muitos deles urgentes. 
No último sábado (11), a prefeitura de Coronel Fabriciano entrou com uma ação civil pública na Justiça contra o decreto. “Estou com criança aqui, que faz acompanhamento oncológico e que, infelizmente, não conseguiu fazer o seu tratamento, na semana passada, porque, numa coisa arbitrária do prefeito Alexandre Kalil, ele impediu que esses pacientes entrassem em Belo Horizonte”, disse o prefeito Marcus Vinícius da Silva Bizarro (PSDB), em entrevista à CNN
Para aguentar as fortes dores no estômago e na perna, Cristiane Mendes, de 42 anos, teve a dose de morfina aumentada pelo seu médico nos últimos dias. Ela é portadora de uma anemia rara e luta contra uma leucemia descoberta em 2007 após sofrer três tromboses. “Aqui em Caratinga não tem esse tipo de tratamento para leucemia. A gente tem que sair e a prefeitura disponibiliza carro devido a minha imunidade baixa”, explica Cristiane. Ela vai duas vezes por semana ao Hospital das Clínicas da capital mineira, sendo que a última consulta que conseguiu comparecer foi em março, por conta da pandemia.   
Segundo o prefeito de Caratinga, Welington Moreira (DEM), as proibições trouxeram uma série de problemas para a população da cidade. “Nós entendemos que essa medida foi extremamente exagerada porque aqui nós não temos nenhum caso confirmado. Na verdade, deveria ser o contrário, para isso, deveria proibir a população da capital de Belo Horizonte de deixar a capital do estado.” afirmou. 
Por meio de nota, a prefeitura de Belo Horizonte afirmou que houve redução no número consultas e  exames especializados para direcionar os esforços médicos no atendimento aos casos relacionados ao novo coronavírus. Acrescentou que o volume de pacientes do interior também foi reduzido e que quem precisa de internação chega à cidade de ambulância.
*CNN BRASIL

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