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domingo, 31 de janeiro de 2021

Afastamento por transtorno mental dispara na pandemia

Concessão de aposentadorias por invalidez e auxílios-doença, por problemas como depressão, sobe 26%, maior alta já registrada.

No ano marcado pela pandemia, a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez devido a transtornos mentais e comportamentais bateu recorde em 2020, somando 576,6 mil afastamentos, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho — uma alta de 26% em relação ao registrado em 2019.

O aumento indica o efeito da crise do coronavírus sobre a saúde mental dos trabalhadores, na avaliação de especialistas.

No caso do auxílio-doença, os afastamentos por causa de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, registraram a maior alta entre as principais doenças indicadas como razão para o pedido do benefício. O número de concessões passou de 213,2 mil, em 2019, para 285,2 mil, em 2020, aumento de 33,7%.

O percentual de crescimento superou a alta nas concessões decorrentes de problemas classificados como osteomusculares e do sistema conjuntivo, como dores na coluna, artroses, lesão por esforço repetitivo (LER) e gota, entre outros, que estão na segunda colocação do ranking. Neste caso, o aumento foi de 28,8% entre 2019 e 2020.

A alta da concessão de auxílio-doença decorrente de transtornos mentais também superou a campeã da lista, que são as lesões causadas por fatores externos, como acidentes. Neste caso, tanto os benefícios de auxílio-doença quanto aposentadorias por invalidez registraram queda no ano passado, na comparação com 2019.

O número de aposentadorias por invalidez concedidas em decorrência de problemas mentais também subiu de 241,9 mil para 291,3 mil de 2019 para 2020, um aumento de 20,4%.

Nos dois tipos de benefício, os números de 2020 são os maiores da série histórica, iniciada em 2006. No caso do auxílio-doença, o governo nunca havia registrado um crescimento anual tão intenso. De 2018 para 2019, por exemplo, o aumento na concessão de benefício por transtornos mentais havia sido de 2,03%.

Segundo especialistas, estabelecer uma relação direta entre a pandemia e o aumento dos afastamentos dos trabalhadores do serviço demandaria estudos mais aprofundados, mas os números sugerem que a Covid-19 está afetando a saúde física e mental das pessoas de modo geral.

Para Eliana Saad Castelo Branco, advogada da área trabalhista, os trabalhadores estão adoecendo mais, e a tendência é que isso se repita nos próximos anos. Ela destaca que, além de toda apreensão envolvendo a pandemia em si e incertezas em torno da vacinação e mutações do vírus, o sistema de produção mudou com as novas tecnologias e a consolidação do home office:

— O trabalhador está hiperconectado, as jornadas se tornaram exaustivas. O trabalho foi para dentro de casa. Nem as empresas nem a legislação trabalhista se prepararam para as mudanças na área tecnológica que já vinham acontecendo e se aceleraram com a pandemia.
*O GLOBO

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