sábado, 5 de junho de 2021

O PADRINHO DE CASAMENTO (TOSTA NETO)

Fernandinho, 25 anos, nasceu e foi criado numa pacata cidade do interior. Teve uma autêntica infância, a qual, desperta profunda saudade no seu coração. Após a conclusão do Ensino Médio, passou a trabalhar no mercadinho da família.

Entrementes à labuta diária, Fernandinho pensava na sua vizinha, a bela e atraente Marilene. A proximidade entre os dois vinha dos tempos de infância; muitas e muitas vezes brincaram de esconde-esconde e assistiram seriados japoneses na TV Manchete. A amizade de Marilene e Fernandinho era admirável e estendeu-se à estadia colegial. O tempo e as circunstâncias da vida não foram capazes de quebrar o elo que os unia. Todavia, Prezado Leitor, um fato arranhou tal elo, porém não irei revelá-lo agora, pois esta singela crônica precisa ter o seu devido desenvolvimento antes do ato final.

Certo dia, no trabalho, Fernandinho foi surpreendido:

– Qual foi o total da compra?

– 27,50.

– Está bem.

– Mais alguma coisa?

– Sim. Fernandinho, há tempos não conversamos.

– Estou muito atarefado aqui no trabalho.

– Sei. Mas, tuas noites estão livres.

– Estou dormindo cedo – treplica Fernandinho.

– Você me esqueceu?

– Marilene, claro que não!

– Fico feliz.

– Impossível te esquecer. Já te falei várias vezes e repito: você é a mulher da minha vida.

– Estou sem palavras – as bochechas da jovem ficaram ruborizadas.

– Eu entendi e respeitei a tua decisão.

– Grata pela compreensão!

– Por nada.

– Fernandinho, eu não te esqueci.

– Sério?

– Sério!

– Estou surpreso!

– Já vou, pois um cliente já está vindo aqui para o caixa.

– Vá.

– Tchau!

– Tchau!

Depois de ouvir a revelação de Marilene, Fernandinho mergulhou em reflexões e o lado esquerdo do seu peito sorriu. Tentou dissipar o estado absorto com a ocupação do trabalho. Antes de dormir, pensou: “a vida é surpreendente. Eu acreditava que ela tinha me esquecido de vez. Marilene é uma mulher maravilhosa. Ela foi o meu primeiro e único amor. Jamais irei esquecê-la”.

Mais uma alvorada se consumou. A neblina ofuscava a paisagem. Uma chuva fina “beijava” as folhas. O frio arrepiava as entranhas. O sol titubeava a sair e lá ia Fernandinho à labuta. Chegou mais disposto que os derradeiros dias; quiçá, por causa da inesperada revelação de Marilene. Uma vez mais, Fernandinho é questionado por Marilene:

– Hoje à noite, eu desejaria conversar contigo. Você está disponível?

– Claro! Onde?

– No mesmo lugar que nós costumávamos nos encontrar. Tenho algo muito importante para te falar.

– Vamos conversar sobre o que mesmo?

– Pessoalmente, eu te conto – resposta a misteriosa Marilene.

– Tudo bem.

– Às 7h30.

– Combinado!

Fernandinho nem teve tempo para se recuperar e foi surpreendido novamente por Marilene. Durante boa parte do dia, uma pergunta pairava na sua mente: “o que será?”. Vencido pela ausência de resposta, evitou incidir em conjecturas: “não vou ficar pensando nisso. Seja o que Deus quiser”. Chegando em casa, caprichou no banho, assistiu um pouco de futebol e tomou café. Fernandinho não tirava o olho do relógio: “a hora não passa. Estou ansioso. Coração e pernas tremem cada vez mais. Vou logo me arrumar. Vestirei a minha melhor roupa”. Enfim, ele chegou pontualmente no local marcado. Marilene já o esperava:

– Que bom que você veio!

– Claro que eu não iria faltar.

– Nós nos encontramos aqui várias vezes. Perdi as contas – comenta a saudosa Marilene.

– Realmente. Aqui, vivemos momentos inesquecíveis. Tenho saudades daquela época.

– Eu também.

– Marilene, o nosso elo é forte. Somos vizinhos e fomos criados praticamente juntos.

– Você se lembra daquela cidadezinha de barro que construímos no quintal da tua casa?

– Lembro sim.

– A adolescência chegou e continuamos unidos.

– E acabamos nos apaixonando. Por incrível que pareça, ninguém descobriu a existência da nossa “amizade colorida” – risos.

– Nossos pais eram severos; não iriam nos compreender – argumenta Marilene.

– Juntos, descobrimos os prazeres do sexo.

– Sim. E foi justamente aqui que perdermos a virgindade.

– A nossa química sexual era fortíssima. Perto de você, eu explodia de tesão.

– Não explode mais?

– Você acha o quê?

– Sei lá.

– Claro que sim! – exclama Fernandinho em alto e bom tom.

– Eu adorava quando você me pegava de jeito e olhava profundamente nos meus olhos.

– Eu também adorava. Nossa! Você era muito gostosa.

– Era?! Não sou mais?

– Você ainda pergunta?

– Pois é.

– Esta conversa não está dando certo.

– Por quê?

– Eu já estou excitado.

– Nossa!

Subsequente ao “silêncio ensurdecedor”, espelhando tensão na face, Fernandinho indaga:

– É bom reviver o passado?

– Por que não? Venha! Venha! Não percamos tempo. Beije-me! Beije-me todinha!

Após a repetição do pretérito, Fernandinho propõe:

– Largue tudo. Fique comigo!

– Não posso.

– Termine o noivado com Michel.

– Não é tão simples.

– Eu sei que você não o ama.

– Talvez eu não sinta amor, mas eu gosto dele. Michel é um rapaz legal e bem-sucedido na vida profissional, além de ter o apoio total dos meus pais.

– Depois dele, você me abandonou.

– Amor, não poderíamos continuar juntos, apesar do nosso romance ter sido às escondidas – em tom de lamúria, argumenta Marilene.

– E por que você traiu Michel nesta noite?

– Eu queria me despedir de você. Digamos: uma “despedida de solteira”. A chama sexual que tinha por você não se apagou. Eu estava louca para transar contigo novamente. Você é o único homem que conhece todos os meus pontos fracos. Definitivamente, você conhece os meus caminhos até o ápice do prazer.

– Uau! Minha Gostosa, fico feliz com teu reconhecimento.

– Meu Macho, só falei a verdade.

– Sinceramente, apesar das futuras dificuldades, desejo te ver outra vez.

– Só o tempo dirá. Como falam por aí: “a esperança é a última que morre”.

– Cultivarei tal esperança dentro de mim – afirma o ainda ofegante Fernandinho.

– Muito bem!

– Você vai casar mesmo? Tem certeza?

– Já te disse: vou sim.

– Ele é bom na cama como eu?

– Prefiro não comentar – Marilene emite um sorriso meio envergonhado.

– Tudo bem. Ah! Afinal, o que você iria falar para mim de tão importante?

– Eu desejaria te fazer um convite.

– Faça! – exclama Fernandinho retratando curiosidade no semblante.

– Quero que você seja o meu padrinho de casamento.

– Padrinho de casamento?

– Sim!

– Fico lisonjeado.

– Você aceita?

– Preciso de um tempo para pensar.

– Está bem. Fico no aguardo.

Enfim, o dia do casamento de Marilene e Michel chegou. Igreja ornamentada. Familiares e convidados felizes. Os recém-casados cumprimentam os presentes. Michel se dirige a Fernandinho:

– Te agradeço por aceitar o convite para ser o padrinho de casamento de Marilene. Saiba que ela fala muito bem de você.

– Por nada. Felicidades para vocês.

Marilene intervém no breve diálogo e abraça Fernandinho de forma bem efusiva:

– Meu padrinho de casamento, grata pela presença! Você não poderia faltar!

 

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