O outono teima em prolongar-se. O inverno se aproxima, logo,
o coração do nordestino começa a ficar mais aquecido diante da iminência do
amado São João. No Nordeste, ao longo do ano, as pessoas aguardam ansiosamente
o advento dos festejos juninos. Tal vínculo é tão profundo que é deveras
difícil retratá-lo por intermédio das palavras. O São João não pode ser
descrito, outrossim, é um fenômeno que deve ser tão somente sentido. A relação
entre a celebração joanina e o nordestino suplanta o plano da imanência.
O São João é literalmente uma explosão de cores, haja vista,
as simpáticas bandeirolas que enfeitam o arraial e os emblemáticos tecidos de
chita que compõem as vestimentas. Não esqueçamos dos fogos que iluminam o
negrume e colorem o dossel. Além das cores, a nossa festa mais querida é
repleta de sabores. Deparamo-nos com um cardápio de diversas comidas típicas,
suscitando nas entrelinhas, a louvação da fartura propiciada pela colheita do
milho e do amendoim, cujo ritual remete aos rituais pagãos da Idade Média que
foram absorvidos e ressignificados pela Igreja Católica.
Os festejos juninos são embalados por uma trilha sonora
típica, a qual, formada por certas canções que são verdadeiros hinos para o
nordestino. Quando a sanfona, a zabumba e o triângulo se encontram, suscita-se
uma epifania musical que desperta alegria e nostalgia. Prezado Leitor, este que
vos escreve, é obrigado a citar a lenda (quiçá o maior nome da música
brasileira) Luiz Gonzaga. O inexorável Rei
do Baião apresentou a região Nordeste para o Brasil, cujas composições
revelam a cultura, a natureza e a resiliência deste povo tão importante na
formação do nosso país.
Além das questões elencadas acima, os festejos juninos
celebram Santo Antônio, São João e São Pedro, santos bastante populares na
tradição católica. Apesar da inserção da Indústria
Cultural nas festas supracitadas através da realização de grandes shows do
chamado “sertanejo universitário”, a simbologia religiosa persiste no inconsciente coletivo; de forma
indireta, o ato de acender a fogueira personifica um ritual de conexão à
transcendência. Por conseguinte, afirmo com convicção que a força avassaladora
da Indústria Cultural não conseguirá
quebrar o elo transcendental entre o São João e o Nordeste. Não é possível
compreender a nossa região sem recorrer aos festejos juninos.
Notadamente, o Brasil é conhecido também como o País do Carnaval; tal alcunha reverbera
no Nordeste, em contrapartida, no nosso âmago, o que realmente nos afeta no
âmbito espiritual é o São João. Não preciso citar exemplos que demonstram
experiências carnavalescas que explicitam a exclusão social. Por sua vez, o São
João é eminentemente popular e expõe a sua pujança no interior. Aproveitando o
ensejo, cito aqui o clássico Festa do
Interior, interpretado pela grandiosa Gal Costa; a letra desta canção
enfatiza o São João como uma genuína festa do interior. Conforme o que foi
abordado até aqui, o São João é um evento riquíssimo, e a sua grandiosidade
confunde-se com o cotidiano e a história do povo nordestino. Viva São João!
Viva...
(Tosta Neto, 23/06/2022)
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