quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O MITO DE ADÔNIS E O DESPREZO AO AMOR CARNAL

Afrodite, deusa do amor e da beleza: na mitologia grega, a versão mais famosa do seu nascimento foi narrada por Hesíodo; segundo o poeta, ela surgiu quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar, logo, da espuma suscitada, nasceu Afrodite. Eros, filho de Afrodite e Ares, é uma das personificações da atração sexual. Adônis, jovem bonito e casto, caçador focado, corria pela floresta densa e escura em busca de qualquer presa…

Nobre Leitor, no parágrafo acima, diferentemente de Afrodite e Eros, resolvi omitir a paternidade de Adônis, pois a origem foi deveras escabrosa. Se não bastasse tal fato, o jovem caçador teve um fim trágico ao ser morto por um terrível javali. Triste Adônis! Enfim, uma vez mais, estamos debruçados a desvendar as facetas simbólicas do mito, as quais, nos revelam comportamentos humanos que se perpetuam no tempo e no espaço. Sentemo-nos e escutemos a narrativa mítica…

Certo dia, enquanto Eros brincava nos braços da mãe, uma de suas flechas roçou o peito materno. Ao erguer os olhos, a primeira pessoa que Afrodite avistou foi o belo Adônis, que corria com sua matilha de cães de caça em busca de um cervo solitário. De imediato, a beldade divina se apaixonou pelo jovem, porém, por incrível que pareça, o reles mortal desprezou a deusa mais cobiçada do panteão grego. Aparentemente, é difícil compreender a postura de Adônis, mas, quando analisamos o mito com esmero, conseguimos entender a intencionalidade subjacente.

De forma corriqueira, o mito de Adônis é associado ao amor platônico, todavia, por ora, iremos refletir sobre outra perspectiva. Adônis era um caçador muito focado e amava o que fazia, por conseguinte, nem as investidas da deusa da beleza foram capazes de atrapalhar a sua concentração. A história de Adônis nos mostra o quão é imprescindível manter o foco diante das metas estabelecidas; questões externas e emotivas não devem nos desviar do alcance dos nossos sonhos. Notadamente, a consumação de um objetivo exige foco, determinação e perseverança, valores que permeiam a personalidade de Adônis.

Voltemos ao conceito de amor platônico e façamos uma singela explanação teórica. Perante a grandiosidade de Platão, qualquer discussão séria de filosofia necessita regressar ao seu pensamento. Segundo o discípulo mais ilustre de Sócrates, a verdade e a beleza estão no Mundo das Ideias, portanto, tudo aquilo que é verdadeiro transcende o Mundo Sensível e atinge o plano inteligível; obviamente o amor não ficaria excluído da forma da inteligibilidade. No horizonte platônico, o amor puro e verdadeiro não se prende ao âmbito concreto; por excelência, em Platão, o amor só será encontrado no Mundo das Ideias.

Quando lemos os geniais Homero e Hesíodo, precisamos desvelar as mensagens e os arquétipos que permeiam os mitos. O texto mítico não diz de forma literal que Adônis era um exemplo de determinação ou um representante do amor platônico. Insofismavelmente, Adônis desprezou o amor carnal de Afrodite em detrimento de um projeto existencial, mostrando-nos nas entrelinhas que o amor está além dos prazeres sexuais. Por fim, para sermos bem-sucedidos em tudo que nós fazemos é de suma importância que coloquemos em prática o amor exemplificado em Adônis pela arte da caça. Caro Leitor, jamais esqueça esta máxima e a exercite: o amor faz a diferença.

(Tosta Neto, 28/11/2024)

 

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