Afrodite,
deusa do amor e da beleza: na mitologia grega, a versão mais famosa do seu
nascimento foi narrada por Hesíodo; segundo o poeta, ela surgiu quando Cronos
cortou os órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar, logo, da espuma
suscitada, nasceu Afrodite. Eros, filho de Afrodite e Ares, é uma das
personificações da atração sexual. Adônis, jovem bonito e casto, caçador
focado, corria pela floresta densa e escura em busca de qualquer presa…
Nobre
Leitor, no parágrafo acima, diferentemente de Afrodite e Eros, resolvi omitir a
paternidade de Adônis, pois a origem foi deveras escabrosa. Se não bastasse tal
fato, o jovem caçador teve um fim trágico ao ser morto por um terrível javali.
Triste Adônis! Enfim, uma vez mais, estamos debruçados a desvendar as facetas
simbólicas do mito, as quais, nos revelam comportamentos humanos que se
perpetuam no tempo e no espaço. Sentemo-nos e escutemos a narrativa mítica…
Certo
dia, enquanto Eros brincava nos braços da mãe, uma de suas flechas roçou o
peito materno. Ao erguer os olhos, a primeira pessoa que Afrodite avistou foi o
belo Adônis, que corria com sua matilha de cães de caça em busca de um cervo
solitário. De imediato, a beldade divina se apaixonou pelo jovem, porém, por
incrível que pareça, o reles mortal desprezou a deusa mais cobiçada do panteão
grego. Aparentemente, é difícil compreender a postura de Adônis, mas, quando
analisamos o mito com esmero, conseguimos entender a intencionalidade
subjacente.
De
forma corriqueira, o mito de Adônis é associado ao amor platônico,
todavia, por ora, iremos refletir sobre outra perspectiva. Adônis era um
caçador muito focado e amava o que fazia, por conseguinte, nem as investidas da
deusa da beleza foram capazes de atrapalhar a sua concentração. A história de
Adônis nos mostra o quão é imprescindível manter o foco diante das metas estabelecidas;
questões externas e emotivas não devem nos desviar do alcance dos nossos
sonhos. Notadamente, a consumação de um objetivo exige foco, determinação e
perseverança, valores que permeiam a personalidade de Adônis.
Voltemos
ao conceito de amor platônico e façamos uma singela explanação
teórica. Perante a grandiosidade de Platão, qualquer discussão séria de
filosofia necessita regressar ao seu pensamento. Segundo o discípulo mais
ilustre de Sócrates, a verdade e a beleza estão no Mundo
das Ideias, portanto, tudo aquilo que é verdadeiro transcende o Mundo
Sensível e atinge o plano inteligível; obviamente o amor não
ficaria excluído da forma da inteligibilidade. No horizonte platônico, o
amor puro e verdadeiro não se prende ao âmbito concreto; por excelência,
em Platão, o amor só será encontrado no Mundo das Ideias.
Quando
lemos os geniais Homero e Hesíodo, precisamos desvelar as mensagens e os
arquétipos que permeiam os mitos. O texto mítico não diz de forma literal que
Adônis era um exemplo de determinação ou um representante do amor
platônico. Insofismavelmente, Adônis desprezou o amor carnal de
Afrodite em detrimento de um projeto existencial, mostrando-nos nas entrelinhas
que o amor está além dos prazeres sexuais. Por fim, para sermos bem-sucedidos
em tudo que nós fazemos é de suma importância que coloquemos em prática o amor
exemplificado em Adônis pela arte da caça. Caro Leitor, jamais esqueça esta
máxima e a exercite: o amor faz a diferença.
(Tosta
Neto, 28/11/2024)
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