Morreu
na noite desta sexta-feira, aos 84 anos, o escritor e intelectual italiano
Umberto Eco, autor de O Nome da Rosa, O
Pêndulo de Foucault e O
Cemitério de Praga, entre outros romances e livros acadêmicos. A notícia
foi confirmada pela família ao jornal italiano La
Repubblica. A causa da morte de Eco, que morreu em sua casa, ainda não foi
divulgada.
Filósofo, crítico literário, semiólogo e romancista
traduzido em mais de quarenta idiomas, o italiano transitava com desenvoltura
entre o mundo acadêmico e os best-sellers. Nascido em 1932, na cidade de
Alexandria, localizada na região italiana do Piemonte, Eco já era um
intelectual respeitado quando lançou seu primeiro romance, O
Nome da Rosa, em 1980. Na obra, um frade franciscano inspirado em Sherlock
Holmes investiga crimes misteriosos em uma abadia na Idade Média. A mistura de
erudição e narrativa envolvente agradou público e crítica, e o livro foi um
sucesso mundial. A obra ganhou uma também bem-sucedida adaptação para o cinema
com Sean Connery - e transformou Eco em um dos maiores fenômenos literários do
século XX.
Sobre
a conciliação entre suas duas facetas - a de acadêmico e a de autor pop -, Eco
dizia: "Eu sou um filósofo. Escrevo romances apenas aos fins de
semana".
A estética medieval, as seitas secretas e, claro, as
teorias conspiratórias são temas recorrentes na obra do escritor - um fascínio
que ele compartilhava com seus milhões de leitores. Em O
Pêndulo de Foucault, um plano conspiratório feito por diversão sai do
controle quando os personagens passam a ser perseguidos por uma sociedade
secreta real. Em O Cemitério de Praga, que se passa no final
do século XIX, o avô do protagonista é um antissemita que acredita que maçons,
templários e illuminatis orquestraram a Revolução
Francesa. No seu último romance, Número Zero, lançado no ano passado, um
comendador cria um jornal somente para chantagear seus inimigos.
"A característica de uma conspiração verdadeira é
que ela é invariavelmente descoberta", disse Eco a VEJA em 2015. "O
perigo está nas conspirações falsas, pois você não consegue desmenti-las - mas
elas se prestam à manipulação: quem quiser tirar proveito delas poderá montar
contraconspirações muito reais."
Tanta conspiração rendeu um gracejo que Eco gostava de
repetir em suas últimas entrevistas. "Eu inventei Dan Brown", dizia
ele, com uma boa dose de acidez, sobre o autor de O
Código Da Vinci. "Ele é um personagem do meu romance O
Pêndulo de Foucault. Eu o inventei. Ele compartilha da fascinação de meus
personagens pelo mundo das conspirações. Suspeito que Dan Brown nem sequer
exista."
Em junho de 2015, por ocasião do lançamento de Número
Zero, o escritor recebeu a reportagem de VEJA para falar de literatura, jornalismo e
também internet. "Com a internet e as redes sociais, o imbecil passa a
opinar a respeito de temas que não entende", disse. "A internet é
como Funes, o memorioso, o personagem de Jorge Luis Borges: lembra tudo, não
esquece nada. É preciso filtrar, distinguir. Sempre digo que a primeira
disciplina a ser ministrada nas escolas deveria ser sobre como usar a internet:
como analisar informações."
Confira nas
listas abaixo as obras de ficção de Eco e alguns de seus muitos tratados
acadêmicos:
Ficção:
O Nome da Rosa, 1980
O Pêndulo de
Foucault, 1988
A Ilha do Dia
Anterior, 1994
Baudolino, 2000
A Misteriosa
Chama da Rainha Loana, 2004
O Cemitério de
Praga, 2010
Número Zero, 2015
Não-ficção
Obra Aberta, 1962
Diário Mínimo, 1963
Apocalípticos e
Integrados, 1964
A Definição da
Arte, 1968
Tratado Geral de
Semiótica, 1975
Como Se Faz Uma
Tese, 1977
A Memória Vegetal, 1992
Em que Crêem os
que Não Crêem? (com
Carlo Maria Martini), 1996
Cinco Escritos
Morais, 1997
Kant e o
Ornitorrinco, 1997
História da
Beleza, 2004
História da
Feiúra, 2007
História das
Terras e Lugares Lendários, 2013
Fonte: Veja
Perda extremamente lamentável para a literatura mundial. Morre não apenas um ótimo escritor, autor do clássico "O Nome da Rosa", mas, principalmente, um dos maiores estudiosos do ofício literário de todos os tempos! No nível de um Harold Bloom ou Roland Barthes. Conseguiu ser ao mesmo tempo erudito e popular. A inteligência literária fica mais pobre sem ele...
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