A Coreia do Norte é um
Estado isolado, empobrecido, mas altamente militarizado. Seus líderes têm um
objetivo principal: a sobrevivência. É por isso que o país investiu pesado em
seu programa nuclear e de mísseis, como uma apólice de seguro definitiva para o
regime.
Qualquer uso de sua
capacidade nuclear seria catastrófica - especialmente para a própria Coreia do
Norte. O regime não sobreviveria a um conflito.
Mas essa perspectiva
tenebrosa não é necessariamente a preocupação imediata. E, sim, a ameaça de que
a crescente guerra verbal entre Washington e Pyongyang passe de retórica para
realidade.
A Coreia do Norte é um
país que recorreu algumas vezes ao uso da força no passado e poderia fazê-lo
novamente. Em março de 2010, acredita-se que o país tenha afundado um pequeno
navio de guerra sul-coreano. No mesmo ano, sua artilharia bombardeou uma ilha
sul-coreana e, se a crise atual se mantiver em ebulição, é provável que a
Coreia do Sul seja um dos alvos da ira do norte.
O Exército da Coreia do
Norte tem vantagem numérica sobre as tropas do sul e está baseado perto da Zona
Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), que marca a fronteira entre as duas
Coreias. É sugerido com frequência que as forças de artilharia e os mísseis
(maior trunfo) da Coreia do Norte poderiam arrasar Seul, capital sul-coreana,
em apenas algumas horas após o início de um conflito.
Mas, na verdade, não é
bem assim. Seul fica a cerca de 40 quilômetros da DMZ e só pode ser atingida
pelas peças de artilharia de maior alcance da Coreia do Norte. Um disparo
revelaria a posição dos norte-coreanos - muitos não têm grande mobilidade -,
deixando-os vulneráveis a ataques do sul.
Já a Coreia do Sul tem,
de longe, vantagem qualitativa e é respaldada pelo vasto poder de ataque do
Exército dos Estados Unidos. Qualquer reprise da Guerra da Coreia - conflito
armado que começou quando a Coreia do Norte invade o Sul em 1950 - resultaria
em um grande número de vítimas civis (certamente muitos estudantes e
empresários chineses que moram em Seul), mas acabaria inevitavelmente em
tragédia para o regime norte-coreano.
Por sorte, uma segunda
edição desta guerra é pouco provável. Mas o perigo é que o Norte pretenda usar
suas forças militares para provocações ou outras estratégias que possam
precipitar um conflito mais generalizado.
Independentemente do
alcance de suas forças de artilharia e mísseis, o Norte possui um vasto arsenal
químico. Também pode ter armas biológicas. E tem um grande número de forças
especiais altamente treinadas e unidades destinadas a se infiltrar no sul. Está
desenvolvendo ainda capacidade para ataque cibernético.
Sendo assim, há muitos
meios pelos quais o país pode lançar uma ofensiva militar. Mas qualquer ataque
contra os EUA ou seus aliados no contexto atual põe em risco uma guerra mais
generalizada. E assumindo que o regime de Pyongyang não é suicida - apesar de
muitos argumentarem o contrário, este não é um regime irracional -, os líderes
norte-coreanos devem estar cientes dos riscos que correm.
Do ponto de vista da
Coreia do Norte, ter uma arma nuclear e capacidade para lançar mísseis
balísticos intercontinentais que mantenha sob ameaça o território continental
dos Estados Unidos, é inteiramente racional. A queda das ditaduras no Iraque e
na Líbia, argumentariam os norte-coreanos, foi em grande parte porque os dois
países não recorreram à arma derradeira.
Arriscar uma guerra
total com os Estados Unidos, que só poderia terminar com o fim do regime, não
faz sentido. Qualquer guerra na península coreana colocaria Washington em
vantagem. As forças norte-coreanas seriam canalizadas para o sul com avanço
limitado, devido à topografia da região, e o Pentágono poderia empregar
estratégias clássicas de batalha por ar e terra para derrotá-los.
Essa guerra é, no
entanto, impensável. Não é do interesse de nenhum dos lados. O risco agora é
inteiramente de mal-entendidos, erros de cálculo e ações tomadas com base em
sinais retóricos atrapalhados e confusos. Os norte-coreanos costumam se
comunicar em alto e bom som. Os EUA precisam agora ser cautelosos em relação ao
tom de sua própria mensagem.
(Fonte: BBC Brasil)
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