A corrupção no Brasil é
um tema trivial no noticiário: a classe política acaba sendo o epicentro de
todo esse lamaçal que nos envergonha. No século XX, a grande filósofa alemã
Hannah Arendt nos brindou com a clássica obra Eichmann em Jerusalém, livro que discorre sobre o julgamento de
Adolf Eichmann em Israel pelos crimes cometidos nos campos de concentração
nazistas. No conceito de “banalidade do mal”, Arendt problematiza a
naturalidade de Eichmann ao relatar os horrores do holocausto. Só para lembrar,
os campos de concentração não foram uma invenção dos nazistas, outrossim, um
aprimoramento dos gulags (campos de
extermínio dos bolcheviques). Na visão de Arendt, como um soldado que cumpre
piamente as ordens de seu general, Eichmann acreditava seguir um projeto
ideológico superior, logo o “mal” era algo banal. Aqui no Brasil, poderíamos
cunhar o conceito de banalidade da
corrupção, prática tão corriqueira que já é um comportamento amplamente
aceitável e permitido.
Lá em Brasília, a
corrupção é modus operandi que
dinamiza toda a engrenagem governamental, cujo principal vetor é o poder
legislativo. Os “nossos” deputados e senadores, na esmagadora maioria, não têm
compromisso com a causa republicana, pois estão na estrutura de poder para
locupletar-se por intermédio de meios espúrios. Como verdadeiros abutres –
pobres abutres, perdoe-me pela analogia – estão sedentos por cargos e propinas,
utilizados para manutenção ad eternum
no poder e enriquecimento ilícito num curto espaço temporal. Nos derradeiros
anos, os pilares do presidencialismo foram corroídos, haja vista o “mensalão” e
o “petróleo”, engendrando um anômalo parlamentarismo, cuja pauta do poder
executivo é adequada consoante os anseios do poder legislativo. Os
parlamentares brasileiros ultrajam a essência Do Espírito das Leis de Montesquieu: a independência e o equilíbrio
entre os Três Poderes.
Obviamente, não podemos
eximir os outros poderes de suas responsabilidades constitucionais. Temos um
presidente fraco e submerso no lodaçal da corrupção, que usa sub-repticiamente
o aparelho de Estado para tentar concluir seu deprimente mandato: distribuição
de verbas para compra de apoio parlamentar e negociatas por cargos nos
ministérios. Na formação ministerial, o mérito e o conhecimento de causa são relegados;
para chegar ao cargo de ministro, é preciso ser de partido da base do governo e
ter a indicação de padrinho político. No tocante ao Poder Judiciário, o STF se
encontra no pior momento de sua história; para exemplificar, é válido citar o
recente e deplorável bate-boca entre Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes,
episódio digno de botequim que mancha ainda mais a imagem da carcomida
república brasileira. O STF é o guardião-mor da constituição, porém alguns
ministros não entenderam o genuíno sentido da justiça, adaptando a
jurisprudência conforme os interesses dos réus e apaniguados políticos. Se
estivesse vivo, o célebre Ruy Barbosa ficaria envergonhado diante destes
episódios.
Lúgubre Brasil,
torpedeado pela corrupção, vilipendiado por uma súcia de salteadores que pilham
o erário público. Contudo, os políticos não são os únicos culpados pela corrupção.
Sabe-se em verso e prosa que a corrupção está arraigada no cotidiano e, a cada
eleição, o “povo” reelege candidatos corruptos. Simplesmente, os governantes
são o reflexo de escolhas erradas dos eleitores. Profiro aqui aquela velha
máxima: cada país tem o governante que merece. São esses mesmos eleitores que
reelegem Paulo Maluf, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Fernando Collor, Aécio
Neves... Alguns deterministas e desconhecedores da História insistem cegamente
em colocar a culpa pela corrupção na colonização portuguesa. Essa justificativa
é muito simplória e não clarifica os problemas que afligem o Brasil. É notório
que há uma complacência generalizada com a corrupção, sobretudo na Praça dos
Três Poderes. A causa republicana é desprezada e a constituição não passa de
mero adorno jurídico. A República proclamada em 15 de novembro de 1889 ainda
não imperou, quiçá não impere jamais. O que há de fato é o império da
corrupção. A República no Brasil é regida pela corruptocracia. Por sinal, a
nossa república nasceu errada sob a égide de um golpe militar.
A democracia sonhada
por Sólon e Péricles não ecoou nas terras
brasilis... Na hodierna conjuntura de crise política e moral, não há uma
saída viável e concreta para o Brasil. O horizonte eleitoral está muito confuso
e anuviado. O Brasil se encontra numa incógnita política. Ademais, não podemos
ser ingênuos e sonhar com uma renovação drástica da classe política nas
eleições de 2018. Tampouco, um condenado a 9 anos e meio de prisão pode ser
visto como o Dom Sebastião que salvará o Brasil. Mais uma vez, o eleitorado
escolherá as velhas raposas. Não há bons auspícios da classe política que apontem
uma mudança de paradigma. Muito pelo contrário, a nefasta classe supracitada já
se articula para desmantelar a Lava Jato,
operação que se transformou no bastião de combate à corrupção. Os “donos do
poder” têm o cinismo de usar a estrutura estatal para se livrarem dos crimes
outrora praticados: reconfiguração do quadro ministerial, corte de recursos da Lava Jato, nomeação de diretor da
Polícia Federal subserviente ao governo, estabelecimento de leis mais brandas
com os corruptos, extensão do foro privilegiado para ministros investigados,
etc. O Brasil está navegando ao léu, sem norte, sem rumo, tristemente
agrilhoado às correntes da corruptocracia.
Tosta
Neto, 03/12/2017
Saudações ao amigo Tosta Neto.
ResponderExcluirSuas palavras são verdadeiras e bem tocadas na ferida Pátria Mãe Gentil,cujo principal problema é a corrupção que impede de termos Ordem e Progresso.
Espero um dia que essas pessoas deploráveis que estão no poder recebam o castigo pelos seus crimes, e que essa geração que vêm possa fazer tudo diferente para podermos obter Ordem e Progresso.