quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

“REFLEXÕES SOBRE O ADVENTO DE BOLSONARO AO PODER” POR TOSTA NETO


A eleição de 2018, é fato, ficará grafada com negrito especial na história da República. Havia todo um ceticismo acerca da candidatura do capitão da reserva, além de ter sido tratada com deboche por alguns adversários e “especialistas” em ciências políticas. Numa análise apressada, ficaria difícil imaginar a vitória de Jair Bolsonaro, graças a uma série de declarações polêmicas no seu itinerário político, porém, saindo da esfera superficial, o triunfo em questão não foi tão surpreendente o quão o senso comum sugere. Há vários fatores que facilitam a compreensão do fenômeno eleitoral Bolsonaro na corrida pelo Palácio do Planalto.
Nos últimos anos, Bolsonaro emplacou um discurso alinhado ao conservadorismo, o que acabou cativando uma parcela significativa da população. Não nos enganemos, apesar dos partidos de esquerda defenderem a tese contrária, o chamado “povão” é conservador. Por sinal, o candidato vencedor conseguiu avançar nos redutos mais pobres, que comumente têm um predomínio do PT. Citemos também, que no plano externo é perceptível uma “onda conservadora”, veja a vitória de Trump nos Estados Unidos e de Matteo Salvini na Itália. A “onda conservadora” já encontrou ecos aqui na América do Sul: a chegada ao poder do líder de centro-direita Sebastián Piñera no Chile é algo sintomático. É óbvio que o Brasil seria atingido em maior ou menor grau por essa onda.
Bolsonaro filiou-se ao recém-criado PSL (Partido Social Liberal), partido que serviu como receptáculo de candidatura. Seria difícil intuir que um partido pequeno faria frente à gigantesca e carcomida estrutura partidária. O PSL tinha 1 deputado na Câmara, angariou 56 vagas, formando a segunda maior bancada; há a perspectiva de ser a primeira com vindouras adesões. Ademais, conquistou três governos estaduais (Roraima, Rondônia e Santa Catarina). Bolsonaro, segundo declaração de despesas de campanha ao TSE, gastou apenas 2,4 milhões; em contrapartida, a candidatura derrotada gastou 37,5 milhões. Um trunfo imprescindível de Bolsonaro foi o uso eficiente das redes sociais, plataforma que ditou o ritmo da campanha. O mundo mudou. Os comportamentos mudaram. As redes sociais estão cada vez mais presentes nas relações humanas, logo, para entender o resultado desta eleição, a internet é um componente fundamental. A televisão não tem mais o peso de pleitos anteriores.
O pleito eleitoral de 2018 teve um fato inédito: um candidato a presidente sofreu uma tentativa de homicídio. Num raciocínio precipitado, poderíamos inferir que a facada sofrida por Bolsonaro foi decisiva no resultado da eleição. Porém, precisamos enfatizar algumas questões. É lógico que a tentativa de homicídio suscitou clamor popular e mais visibilidade a Bolsonaro, contudo, ele foi tirado do front. Sabe-se que o corpo a corpo tem muito peso na campanha. Um fator que deve ser elencado: o apoio maciço do eleitorado evangélico ao candidato do PSL; os pastores mais renomados entraram de corpo e alma na candidatura conservadora. A vitória de Bolsonaro também é explicada pela rejeição exacerbada ao PT. Os escândalos do Mensalão e do Petrolão transformaram o PT em sinônimo de corrupção. Não olvidemos a prisão de Lula, o arquiteto principal dos esquemas de corrupção supracitados. A maioria do eleitorado rejeitou o PT e o presidiário. Em qualquer eleição, normalmente, a rejeição é um imenso empecilho para que determinado candidato seja vencedor.  
É inconteste que Bolsonaro foi um fenômeno eleitoral. Eis algumas evidências: Eduardo Bolsonaro foi o deputado federal mais votado da história em votos absolutos; em alguns estados que tiveram 2º turno, os dois candidatos apoiaram Bolsonaro, haja vista no Rio Grande do Sul (Eduardo Leite e José Ivo Sartori); subsequente ao resultado do 1º turno, João Doria, candidato do PSDB de Alckmin, contrariando o partido e o padrinho político, declarou apoio a Bolsonaro. Assim como Trump, guardadas as devidas diferenças, Bolsonaro encarnou o espírito de anti-establishment, não contando com a simpatia da grande mídia e da “classe artística”. Os fatores acima e outros não enumerados neste modesto artigo apresentam um norte para apreender que a vitória de Jair Bolsonaro não foi um capricho do acaso.

Tosta Neto, 13/12/2018  

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