sexta-feira, 15 de março de 2019

“POR QUE OS ANTI-HERÓIS SÃO TÃO AMADOS?” POR TOSTA NETO


Recentemente, assisti a série O Justiceiro na Netflix. Quase que de forma instantânea, identifiquei-me com o personagem principal Frank Castle e tive o insight para escrever este artigo. Com a explosão do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) e a popularização da internet, os heróis das revistas em quadrinhos voltaram a ter o protagonismo de outrora na cultura pop. Eu poderia escrever uma reflexão sobre o Justiceiro, porém ainda não tenho condições para tal empreitada; preciso de mais tempo para entender a psique do querido e enigmático Frank. Tentarei refletir sobre o fascínio que os anti-heróis exercem nos fãs.
O mundo dos quadrinhos está repleto de heróis, anti-heróis e vilões. Prezado Leitor, a priori, utilizarei alguns personagens para ilustrar as minhas modestas explanações; estas escolhas têm somente um critério: carinho. Notoriamente, no UCM o Capitão América é um personagem central, quiçá a melhor personificação do herói. Steve Rogers é dotado de virtudes: patriota, justo, altruísta, prestimoso e fraterno. Procuramos um defeito nele e não encontramos. Rogers é o típico modelo de soldado patriota dos Estados Unidos. Sem dúvida, é um personagem querido, embora alguns fãs não gostam dele, pois o acham “muito certinho”. Sabe-se que qualquer personagem não traz consigo a unanimidade; é obvio que o Capitão América não fugiria desta máxima.
Em contraposição ao herói emerge a figura do vilão. Vale salientar, que o vilão clássico normalmente é cruel e desumano, despertando ojeriza por causa da ausência do mínimo senso de humanidade. Mas, nos derradeiros anos, sobretudo no filme Guerra Infinita, o vilão vem sendo humanizado. Thanos, apesar de ter aniquilado a metade dos seres vivos do universo, traz consigo algumas características que o humanizam, como a crença que estava a fazer a coisa certa (para que houvesse disponibilidade de recursos) e o sacrifício pessoal para conseguir as Joias do Infinito. Ademais, o “Titã Louco” chorou diante da morte de Gamora e demonstrou piedade à Feiticeira Escarlate antes do nefasto estalo de dedos. Apesar dos pesares, há inúmeros fãs que apresentam apreço pelos vilões.
Na transição entre o herói e o vilão, encontra-se o anti-herói. Como o título do artigo sinaliza, os anti-heróis são muito amados. Alguém tem dúvida que entre os X-Men, Wolverine é o mais querido? Mesmo compondo um grupo seleto de heróis, Logan entra na categoria dos anti-heróis: explosivo, individualista, pouco simpático ao sentimentalismo e inclemente com os adversários. Não posso furtar-me de citar o Justiceiro, um genuíno anti-herói: perito em armas, mestre em luta corporal, descrente das instituições e individualista. Frank Castle não hesita na aplicação da tortura para extrair informações dos bandidos. O Justiceiro tem um forte senso de justiça, autêntico defensor dos inocentes e não tem piedade dos criminosos. Perante a ineficiência do Estado, Castle apresenta uma sede insaciável de fazer justiça com as próprias mãos; quem nunca teve vontade de efetuar tal ato?
Eis a questão: por que nos identificamos tanto com os anti-heróis? É muito simples: os anti-heróis e nós, seres humanos, temos defeitos e sofremos com as mazelas da existência. O anti-herói traz uma projeção das dores da humanidade e, como qualquer ser humano em sã consciência, demonstra complacência com os indefesos e insatisfação no tocante as injustiças na sociedade. Os seres humanos não são infalíveis, em contraposição, os heróis tradicionais são quase deuses e coadunados ao ideal de perfeição, por conseguinte, nos identificamos àqueles que são semelhantes a nós, isto é, a própria figura do anti-herói.
O ser humano é um amálgama de sentimentos confusos e ações dúbias a transitar por mundos antípodas, destinado a carregar o peso de suas escolhas. Enfim, o ser humano está na interseção entre o bem e o mal. Para corroborar o raciocínio em questão, apelo a Friedrich Nietzsche, que afirmara em sua obra-prima Assim falou Zaratustra: “o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre o abismo.” Parafraseando o grande filósofo alemão, concluo com o seguinte aforismo: o anti-herói, isto é, o ser humano, é uma corda estendida entre o herói e o vilão, uma ponte entre o bem e o mal, o elo entre as forças antagônicas do universo.

Tosta Neto, 15/03/2019   

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