Certa noite, este que vos escreve,
acometido por momentos de felicidade, fora absorvido por uma série de abissais
reflexões. Um vazio dominou o meu âmago, angustiado o quão a felicidade é
fugidia. O tempo foi inclemente ao usurpar de mim aquele frenesi de felicidade.
Fiquei triste e absorto. Senti a felicidade escorrer pelos meus dedos. Antes de
dormir, relembrei todos os pormenores da noite maravilhosa que vivi. Assumi uma
postura estoica, aceitei a fugacidade dos momentos de felicidade e apaguei com
o sono dos inocentes.
No século XXI, o alcance da
felicidade virou uma obsessão. Tenta-se encontrá-la na aquisição desenfreada de
bens materiais, na busca do corpo perfeito e na caça tresloucada de likes nas
redes sociais. O ser humano na contemporaneidade está mergulhado numa crise
existencial, buscando uma autoafirmação no plano extrínseco. Desprovido de um
norte, o homo contemporaneus encontra-se
à deriva em alto-mar. Enquanto continuar sem um encontro consigo mesmo, o ser
humano continuará a navegar de forma desordenada.
Para ser feliz não é preciso uma
fórmula mágica. Ademais, é um engano achar que a felicidade será encontrada em
outra pessoa. A felicidade é algo interno. A doutrina budista é muito clara e
pontual ao salientar o alcance da felicidade como um exercício de regresso ao
próprio interior. Por conseguinte, o indivíduo não encontrará a felicidade no
materialismo, no casamento bem-sucedido, no sucesso profissional, outrossim,
será atingida no elo com o próprio interior. Traçando um paralelo com o
Hinduísmo, no Bhagavad Gita, Krishna
orienta o domínio das forças egóicas como caminho à felicidade.
O problema da felicidade é
hermético, questão que já fora abordada por vários filósofos. Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles fizera uma
análise contundente sobre a felicidade, colocando-a como o “bem supremo”. Nas
entrelinhas, o mais famoso discípulo de Platão problematiza que a busca da
felicidade é inata. Na ética aristotélica, a felicidade é o objetivo máximo da
humanidade. Se formos para o século XIX, os filósofos utilitaristas destacaram
que a felicidade é mensurada numa equação matemática: aumento do prazer e
diminuição da dor; se a intensidade do prazer for maior, a felicidade será
conquistada.
Prezado Leitor, de pureza d’alma,
te digo: será uma tarefa complexa responder a indagação do título do artigo.
Tentarei sinalizar um caminho, um mero vislumbre. Obviamente, não é possível
medir a extensão da felicidade, tal qual, da tristeza. Quiçá tenhamos um efeito
mental, isto é, nos momentos felizes o tempo voa, nos tristes, arrasta-se. Não
é possível atingir a plenitude da felicidade; temos somente alguns flashes.
Apesar da fugacidade inapreensível dos momentos felizes, os efeitos mentais são
duradouros. Um dia feliz gera uma agradabilíssima sensação no instante que as
lembranças vem à tona. Encerro este modesto artigo com um provérbio que li ou
ouvi em certo lugar, mais ou menos assim: “um dia de felicidade é o mesmo que
viver um ano.”
(Tosta Neto, 23/08/2019)
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