sexta-feira, 23 de agosto de 2019

“POR QUE A FELICIDADE É TÃO PASSAGEIRA?” POR TOSTA NETO


Certa noite, este que vos escreve, acometido por momentos de felicidade, fora absorvido por uma série de abissais reflexões. Um vazio dominou o meu âmago, angustiado o quão a felicidade é fugidia. O tempo foi inclemente ao usurpar de mim aquele frenesi de felicidade. Fiquei triste e absorto. Senti a felicidade escorrer pelos meus dedos. Antes de dormir, relembrei todos os pormenores da noite maravilhosa que vivi. Assumi uma postura estoica, aceitei a fugacidade dos momentos de felicidade e apaguei com o sono dos inocentes.
No século XXI, o alcance da felicidade virou uma obsessão. Tenta-se encontrá-la na aquisição desenfreada de bens materiais, na busca do corpo perfeito e na caça tresloucada de likes nas redes sociais. O ser humano na contemporaneidade está mergulhado numa crise existencial, buscando uma autoafirmação no plano extrínseco. Desprovido de um norte, o homo contemporaneus encontra-se à deriva em alto-mar. Enquanto continuar sem um encontro consigo mesmo, o ser humano continuará a navegar de forma desordenada.
Para ser feliz não é preciso uma fórmula mágica. Ademais, é um engano achar que a felicidade será encontrada em outra pessoa. A felicidade é algo interno. A doutrina budista é muito clara e pontual ao salientar o alcance da felicidade como um exercício de regresso ao próprio interior. Por conseguinte, o indivíduo não encontrará a felicidade no materialismo, no casamento bem-sucedido, no sucesso profissional, outrossim, será atingida no elo com o próprio interior. Traçando um paralelo com o Hinduísmo, no Bhagavad Gita, Krishna orienta o domínio das forças egóicas como caminho à felicidade.
O problema da felicidade é hermético, questão que já fora abordada por vários filósofos. Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles fizera uma análise contundente sobre a felicidade, colocando-a como o “bem supremo”. Nas entrelinhas, o mais famoso discípulo de Platão problematiza que a busca da felicidade é inata. Na ética aristotélica, a felicidade é o objetivo máximo da humanidade. Se formos para o século XIX, os filósofos utilitaristas destacaram que a felicidade é mensurada numa equação matemática: aumento do prazer e diminuição da dor; se a intensidade do prazer for maior, a felicidade será conquistada.
Prezado Leitor, de pureza d’alma, te digo: será uma tarefa complexa responder a indagação do título do artigo. Tentarei sinalizar um caminho, um mero vislumbre. Obviamente, não é possível medir a extensão da felicidade, tal qual, da tristeza. Quiçá tenhamos um efeito mental, isto é, nos momentos felizes o tempo voa, nos tristes, arrasta-se. Não é possível atingir a plenitude da felicidade; temos somente alguns flashes. Apesar da fugacidade inapreensível dos momentos felizes, os efeitos mentais são duradouros. Um dia feliz gera uma agradabilíssima sensação no instante que as lembranças vem à tona. Encerro este modesto artigo com um provérbio que li ou ouvi em certo lugar, mais ou menos assim: “um dia de felicidade é o mesmo que viver um ano.”

(Tosta Neto, 23/08/2019)      
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