Eis
mais uma corrida eleitoral. Dezenas de candidatos se apresentam como vindouros
representantes do povo. As experiências de outrora e a previsibilidade
estratégica apontam aquela velha cantilena do pleito: promessas utópicas, discurso
raso e ensaiado, jingles chatos e repetitivos com letras quiméricas e
“santinhos” que esbanjam risos artificiais. Esclareço ao leitor que o objeto
deste artigo será a disputa no executivo. No título fiz questão de delinear as
siglas partidárias, evitando incidir em personalismo,
elemento muito nocivo na política. Contudo, é válido enfatizar que os partidos
no Brasil estão em frangalhos, solapados por escândalos de corrupção, descrença
do eleitorado e recrudescimento da figura do líder político.
Júlio
Pinheiro (PT), naturalmente, concorrerá à reeleição. Karina Silva (PCdoB)
tentará retornar à cadeira da prefeitura. Eu não emitirei juízo de valor sobre
os candidatos, porquanto são meus conterrâneos e contemporâneos, logo não tenho
a devida distância espacial e temporal para efetuar uma análise mais fria e
meticulosa. De pureza d’alma, desejo aos candidatos uma campanha leal e
propositiva. Explicitamente, as eleições no município mexem com as emoções do
povo, por causa da proximidade física dos candidatos. País e estado são tipos
conceituais deveras abstratos, diferentemente da cidade, pois habitamos na
mesma. Não moramos no Brasil e na Bahia, outrossim, moramos em Amargosa. É
compreensível o fervor e a euforia suscitados no eleitor na campanha municipal.
Uma
vez mais, Amargosa testemunhará a contenda de candidatos vinculados à esquerda.
Há tempos, a política na nossa amarga cidade está polarizada entre dois grupos:
PT e não-PT. Ampliemos o foco e analisemos a conjuntura política de forma holística.
No desenrolar da história amargosense, sobretudo nas duas últimas décadas,
grupos tradicionais se alternaram no poder. A cada eleição, o tabuleiro
político é alterado, os líderes se reagrupam, e o opositor do ontem
transmuta-se no parceiro do hoje. Sem delongas, um candidato só terá chances de
vitória se conseguir estabelecer alianças com os grupos supracitados;
logicamente, Karina e Júlio estão imersos nesta amálgama de poder. Presencia-se
uma bolha oligárquica que está longe de ser estourada
Não
obstante, seria positivo à política local o advento da 3ª via. Não podemos
reduzir tudo a uma concepção binária, embora reconhecemos o peso do
dualismo judaico-cristão e a força do Materialismo
Histórico no Ocidente, por conseguinte, fomos condicionados a pensar consoante
o ângulo dicotômico: Deus x diabo, bem x mal, burguesia x proletariado, patrão
x empregado, direita x esquerda etc. Os fatos nos sinalizam que quando surge um
nome na condição de 3ª via, acaba sendo vaporizado ou colocado numa posição
secundária pelas forças circunstanciais advindas da “matrix” oligárquica. O
debate necessita ser amplificado para não se restringir à ordem bipolar.
Citemos um fenômeno expressivo: alguns eleitores conservadores estão
desnorteados perante o quadro limitado aos partidos de esquerda.
Voltemos
à disputa em questão. O candidato ao executivo que concorre à reeleição, na
maioria esmagadora das vezes, angaria o triunfo. A candidata do PCdoB terá
dificuldades exacerbadas para impedir a reeleição da candidatura petista. Quiçá
o autor que vos escreve seja incompreendido por alguns correligionários,
todavia a análise em si intenta tão somente reverberar no tocante a conjuntura
política. Ora Ilustre Leitor, é normal que o eleitorado fique “à flor da pele”.
Por mais que tenhamos a consciência que devemos escolher os candidatos que
tenham as propostas mais contundentes e exequíveis, às vezes, somos persuadidos
a votar conforme questões afetivas. O voto não é necessariamente um ato
racional; o componente emotivo tem uma carga significativa. Enfim, oxalá que a
nossa amarga cidade tenha uma corrida eleitoral serena e nutrida pelo espírito
republicano.
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