domingo, 4 de abril de 2021

A PÁSCOA SEGUNDO O EVANGELHO DE MARCOS (TOSTA NETO)

A morte e a ressurreição de Jesus Cristo têm uma importância incomensurável, pois é o divisor de águas na história do Ocidente. Inestimável Leitor, convido-te para efetuar uma reflexão sobre a Páscoa tendo como horizonte o Evangelho de Marcos. Explicitamente, o evangelista se propõe a responder a seguinte questão: quem é Jesus? A resposta será encontrada no relato das ações de Cristo. Na leitura de Marcos, os atos que compuseram a vida do Filho de Deus revelarão a resposta da indagação supracitada, consagrando Jesus como a concretização da vinda do Reino de Deus.

Na sua passagem na Terra, o Cordeiro de Deus entrou em conflito com as autoridades religiosas e os privilegiados que comercializavam no Templo. Sabe-se que o termo “cordeiro”, no senso comum, tem uma conotação de passividade, contudo essa categoria não se aplica a Cristo. Voltemos ao Evangelho. Os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei passaram a conjecturar um meio para matar Jesus, suscitando a conspiração com um dos seus apóstolos: “Judas Iscariotes, um dos doze discípulos, foi ter com os chefes dos sacerdotes, para entregar Jesus. Eles ficaram muito contentes quando ouviram isso, e prometeram dar dinheiro a Judas. Então Judas começou a procurar uma boa oportunidade para entregar Jesus” (Mc 14:10-11). No status de Pai e detentor da onisciência, Cristo sabia que seria traído por Judas. Ao longo da história ocidental, Judas se transformou no ícone-mor da traição. É válido enfatizar, que o próprio Jesus condenara o traidor: “O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura sobre ele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido” (Mc 14:21).

Anteriormente à via-crúcis, Cristo e os discípulos fizeram a ceia, cujo ato representa a instituição da Eucaristia. Na iminência da traição, Cristo é acometido por uma crise existencial, emergindo no seu âmago uma sensação melancólica e temente, condição retratada por Marcos: “Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e começou a ficar com medo e angústia” (Mc 14:33). Apesar da estirpe divina, a crise enfrentada por Cristo desvela a angústia da humanidade perante a morte. Logo depois, de certa forma, Jesus assumiu uma postura estoica, porque a vontade do Senhor seria feita e as Escrituras seriam cumpridas. Por ora, escutemos o evangelista sobre o advento de Judas: “Logo mais, enquanto Jesus ainda falava, chegou Judas, um dos Doze, com uma multidão armada de espadas e paus. Iam da parte dos chefes dos sacerdotes, dos doutores da Lei e dos anciãos do povo” (Mc 14:43). Judas combinou com os conspiradores um sinal de identificação: “Jesus é aquele que eu beijar”. Tal gesto se converteu num ato pérfido que habita o inconsciente coletivo.

Após a prisão, Jesus fora levado à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os doutores da Lei. As autoridades religiosas objetivavam imputar um crime a Cristo, e o torpedearam com uma série de questionamentos. Na maior parte do tempo, Jesus se manteve silente, mas acabou quebrando o silêncio: “Jesus respondeu: ‘Eu sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu’” (Mc 14:62). A corja mencionada acima decretou a pena de morte ao Filho de Deus, entregando-o ao governador romano Pôncio Pilatos. Nesta época de domínio do Império Romano na Terra Santa, o Sinédrio estabelecia as penas, todavia, a aplicação era de incumbência da autoridade governamental de Roma. Entrementes, Jesus foi humilhado com cusparadas e bofetadas, atos que demonstram o escárnio com o sofrimento do outro. Na passagem em questão do Evangelho, surge a famosa negação de Pedro a Jesus Cristo: “Nesse instante, o galo cantou pela segunda vez. Pedro se lembrou de que Jesus lhe havia dito: ‘Antes que o galo cante duas vezes, você me negará três vezes.’ Então Pedro começou a chorar” (Mc 14:72).

Prezado Leitor, é notório que a Páscoa é marcante no Judaísmo, tão marcante que o governador romano soltava um prisioneiro, normalmente judeu, tendo como intento suavizar as tensões sociais. Pilatos se esforçou para compreender os supostos crimes atribuídos a Cristo. Seguindo a tradição, o prisioneiro Barrabás fora chamado e Pilatos propusera: Jesus ou Barrabás? Ouçamos o evangelista: “Pilatos bem sabia que os chefes dos sacerdotes haviam entregado Jesus por inveja. Porém os chefes dos sacerdotes atiçaram a multidão para que Pilatos soltasse Barrabás” (Mc 15:10-11). É lógico que os chefes dos sacerdotes instigaram a multidão a escolher Barrabás pelo fato de Jesus ser mais perigoso ao status quo, por conseguinte, Pilatos soltou o prisioneiro e ordenou que Jesus fosse crucificado. No caminho do calvário, os escarnecedores cuspiam, xingavam e agrediam Cristo. Segundo Marcos, o Filho de Deus foi crucificado na sexta-feira, às nove horas da manhã, acontecimento que marcaria de forma abissal o Ocidente.

Ulterior as atribulações, Jesus expirou e a cortina do santuário rasgou-se. O soldado romano que testemunhou o derradeiro suspiro, reconheceu que Cristo era o Filho de Deus: eis o reconhecimento que sinaliza que muitos pagãos absorveriam a mensagem cristã. Seguidamente, o rico comerciante José de Arimatéia solicitou o corpo de Jesus a Pilatos para fazer um sepultamento digno. Uma vez mais, recorramos ao evangelista: “José comprou um lençol de linho, desceu o corpo da cruz, e o enrolou no lençol. Em seguida, colocou Jesus num túmulo, que tinha sido cavado na rocha, e rolou uma pedra para fechar a entrada do túmulo. Maria Madalena e Maria, mãe de Joset, ficaram olhando onde Jesus tinha sido colocado” (Mc 15:46-47).

No domingo, bem cedo, Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago) e Salomé compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus. Quando chegaram no túmulo, perceberam que a pedra tinha sido retirada e ficaram estupefatas, não obstante, o anjo do Senhor lhes disse: “‘Não fiquem assustadas. Vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está aqui! Vejam o lugar onde o puseram’” (Mc 16:6). A ressurreição de Jesus Cristo provou a sua divindade e cunhou uma nova era na história. Doravante, caberia aos discípulos propagarem as boas-novas pelos quatro cantos do mundo. A Palavra de Cristo continua viva e vigorosa, orientando o itinerário existencial de inúmeros fiéis e admiradores. Os ensinamentos de Jesus Cristo têm alicerces atemporais e universais, cujo princípio de fé permanecerá sendo o norte para uma parcela significativa da humanidade.

(Tosta Neto, 04/04/2021)

 

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