domingo, 16 de abril de 2023

COMO JOGA O FLUMINENSE DE FERNANDO DINIZ? (TOSTA NETO)

Após a performance soberba na partida de volta da final do Campeonato Carioca contra o Flamengo (atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil), o estilo tático de Fernando Diniz entrou em evidência. Nesta concisa reflexão, apresentaremos o funcionamento da engrenagem tática do talentoso técnico do Tricolor das Laranjeiras. A priori, em trabalhos anteriores, Diniz expôs um conceito futebolístico arrojado, porém por causa da ausência de títulos, as análises de seu perfil tático eram quase sempre obnubiladas. É óbvio que o triunfo é imprescindível, mas para efeito avaliativo é preciso ater-se à tática em si e identificar os movimentos que constituem a engrenagem supracitada. Subsequente ao título do Carioca, talvez tenhamos por parte da mídia esportiva uma avaliação mais equilibrada.

Façamos a reflexão anunciada. De modo nítido, independentemente dos desenhos táticos (4 – 4 – 2, 4 – 2 – 3 – 1), os times de Diniz demonstram muita compactação, cujos atletas jogam próximos e buscam passes curtos e inversão de posições que confundem os adversários; nesta perspectiva, diante da proximidade espacial, a probabilidade de erro é minimizada, elevando significativamente a posse de bola. Essa dinâmica beneficia bastante Paulo Henrique Ganso, pois não há a necessidade de correr médias e grandes distâncias para ter contato com a pelota. No geral, o estilo de Diniz não prescinde da posse, porque sem a propriedade da bola o oponente ficará impossibilitado de efetuar o gol.

Prezado Leitor, por causa da proeminência da posse de bola, o estilo de Diniz é confundido com o de Guardiola. Apesar da explícita semelhança, há uma diferença básica que iremos apontar neste parágrafo. O consagrado técnico do Manchester City é adepto do jogo posicional, no qual, cada jogador guarda de forma fixa a sua posição e defende com rigor o seu espaço. Em contrapartida, segundo depoimento do próprio técnico do Fluminense, ele é adepto do jogo aposicional. Neste estilo, o atleta não tem um lugar fixo e inverte de posição com seu companheiro, haja vista o gol de Marcelo na final com o Flamengo; Marcelo é lateral-esquerdo, todavia no gol em questão, ele surgiu no setor ofensivo direito e marcou um golaço que abriu a contagem para o Fluzão.

É notável que nenhum time vive só de posse de bola e jogadas ofensivas; abordemos o funcionamento do mecanismo de marcação. Por ter uma formação compacta, logo após a perda de bola, o Fluminense inicia o gegenpressing (perde-pressiona), estilo de marcação consagrado pelo Liverpool de Klopp em 2019; tal movimento tem como incumbência recuperar rapidamente a bola e retomar o controle da partida com passes curtos e rápidos atrelados à troca de posições. O ponto fraco deste modelo de Diniz é o lançamento de bolas longas por fora do bloco de marcação, fator que pode deixar a defesa desguarnecida; para acometer esse calcanhar de Aquiles, é fundamental contar com atletas rápidos nas extremidades do bloco de marcação.

O sistema de jogo de Diniz conta com uma peça primordial: André. O promissor meio-campista encosta no goleiro e nos zagueiros para iniciar a construção de jogadas. Façamos uma menção especial ao zagueiro Nino e ao goleiro Fábio que dividem tal empreitada com o camisa 7 do Tricolor Carioca. Apesar do insucesso na saída de bola em algumas experiências pregressas, Diniz demonstra uma exacerbada convicção na sua proposta de jogo. Perante os argumentos desenvolvidos neste artigo, afirmamos o quão Fernando Diniz é um técnico diferenciado em meio à mesmice e previsibilidade que persistem entre os técnicos brasileiros. Uma vez mais, bradamos: a análise não pode ter como único critério o currículo recheado de taças, por conseguinte, fiquemos concentrados na essência do sistema tático. A tendência é que Diniz continue a fazer um ótimo trabalho que trará mais títulos para a sua carreira. Enfim, é uma satisfação contemplar o Fluminense de Fernando Diniz jogar.

(Tosta Neto, 16/04/2023)

 

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