Após
a performance soberba na partida de volta da final do Campeonato Carioca
contra o Flamengo (atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil),
o estilo tático de Fernando Diniz entrou em evidência. Nesta concisa reflexão,
apresentaremos o funcionamento da engrenagem tática do talentoso técnico do Tricolor
das Laranjeiras. A priori, em trabalhos anteriores, Diniz expôs um
conceito futebolístico arrojado, porém por causa da ausência de títulos, as
análises de seu perfil tático eram quase sempre obnubiladas. É óbvio que o
triunfo é imprescindível, mas para efeito avaliativo é preciso ater-se à tática
em si e identificar os movimentos que constituem a engrenagem supracitada.
Subsequente ao título do Carioca, talvez tenhamos por parte da mídia esportiva
uma avaliação mais equilibrada.
Façamos
a reflexão anunciada. De modo nítido, independentemente dos desenhos táticos (4
– 4 – 2, 4 – 2 – 3 – 1), os times de Diniz demonstram muita compactação, cujos
atletas jogam próximos e buscam passes curtos e inversão de posições que
confundem os adversários; nesta perspectiva, diante da proximidade espacial, a probabilidade
de erro é minimizada, elevando significativamente a posse de bola. Essa
dinâmica beneficia bastante Paulo Henrique Ganso, pois não há a necessidade de
correr médias e grandes distâncias para ter contato com a pelota. No geral, o
estilo de Diniz não prescinde da posse, porque sem a propriedade da bola o
oponente ficará impossibilitado de efetuar o gol.
Prezado
Leitor, por causa da proeminência da posse de bola, o estilo de Diniz é
confundido com o de Guardiola. Apesar da explícita semelhança, há uma diferença
básica que iremos apontar neste parágrafo. O consagrado técnico do Manchester
City é adepto do jogo posicional, no qual, cada jogador guarda de forma
fixa a sua posição e defende com rigor o seu espaço. Em contrapartida, segundo
depoimento do próprio técnico do Fluminense, ele é adepto do jogo
aposicional. Neste estilo, o atleta não tem um lugar fixo e inverte de
posição com seu companheiro, haja vista o gol de Marcelo na final com o
Flamengo; Marcelo é lateral-esquerdo, todavia no gol em questão, ele surgiu no
setor ofensivo direito e marcou um golaço que abriu a contagem para o Fluzão.
É
notável que nenhum time vive só de posse de bola e jogadas ofensivas; abordemos
o funcionamento do mecanismo de marcação. Por ter uma formação compacta, logo
após a perda de bola, o Fluminense inicia o gegenpressing
(perde-pressiona), estilo de marcação consagrado pelo Liverpool de Klopp em
2019; tal movimento tem como incumbência recuperar rapidamente a bola e retomar
o controle da partida com passes curtos e rápidos atrelados à troca de
posições. O ponto fraco deste modelo de Diniz é o lançamento de bolas longas
por fora do bloco de marcação, fator que pode deixar a defesa desguarnecida;
para acometer esse calcanhar de Aquiles, é fundamental contar com
atletas rápidos nas extremidades do bloco de marcação.
O
sistema de jogo de Diniz conta com uma peça primordial: André. O promissor
meio-campista encosta no goleiro e nos zagueiros para iniciar a construção de
jogadas. Façamos uma menção especial ao zagueiro Nino e ao goleiro Fábio que
dividem tal empreitada com o camisa 7 do Tricolor Carioca. Apesar do
insucesso na saída de bola em algumas experiências pregressas, Diniz demonstra
uma exacerbada convicção na sua proposta de jogo. Perante os argumentos
desenvolvidos neste artigo, afirmamos o quão Fernando Diniz é um técnico
diferenciado em meio à mesmice e previsibilidade que persistem entre os
técnicos brasileiros. Uma vez mais, bradamos: a análise não pode ter como único
critério o currículo recheado de taças, por conseguinte, fiquemos concentrados na
essência do sistema tático. A tendência é que Diniz continue a fazer um ótimo
trabalho que trará mais títulos para a sua carreira. Enfim, é uma satisfação
contemplar o Fluminense de Fernando Diniz jogar.
(Tosta
Neto, 16/04/2023)
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