O ser humano é
indecifrável, logo, é uma tarefa hercúlea perscrutar o enigma que cerca a sua
existência. Todo ser humano é constituído pelo extenso leque da complexidade, o
que faz dele um indivíduo único no Universo. O ser humano está lançado na
vastidão da vida, tal qual um navegante que não prever as inúmeras
possibilidades que brotam das profundezas do oceano. Perante a grandiosidade
marinha, o homem se sente na condição de um ser ínfimo, como uma gota d'água em
meio a procela.
Por mais que
tenhamos algumas visões idealistas sobre a vida, sabemos que ela não é constituída
por um “mar de rosas”, e sempre há a possibilidade de encontrarmos correntes
marítimas desfavoráveis e carência de ventos. Na metáfora da vida, o ser humano
está a navegar na amplidão oceânica, cujo horizonte não traz a garantia de uma
viagem tranquila e segura. O ser humano na sua nau necessita ter resiliência e
coragem para lidar com as adversidades oriundas das ondas e do firmamento.
No planejamento de
cada viagem ao se debruçar nas cartas náuticas, o navegador se angustia diante
da ausência de previsibilidade, por outro lado, ele se consterna, pois sabe que
o itinerário existencial está calcado no imprevisível. Por mais que a
tecnologia tenha avançado, haja vista a presença de satélites cada vez mais
precisos, o navegador jamais terá a certeza de mares serenos. No seu âmago,
quiçá no âmbito do inconsciente, o marinheiro intui que nunca conseguirá
antecipar o movimento das correntes marítimas que formam o oceano da vida.
No balanço
ininterrupto das ondas, o navegante explora o mar na labuta em prol do peixe de
cada dia, o qual, se torna abundante em períodos de calmaria; ventos
favoráveis, nuvens dispersas, cruzeiro do sul explícita no dossel, fatores
somados que concedem paz e tranquilidade para o navegador. Todavia, seguindo o
horizonte da imprevisibilidade, as condições climáticas podem mudar repentinamente; todo pescador sabe que o mar é incontrolável e
indecifrável, por conseguinte, ninguém consegue prever a direção das ondas.
Os movimentos
ordenados e caóticos do mar são a própria metáfora da vida, logo, o velho
navegante compreende que, principalmente, no enfrentamento dos mares revoltos,
o amadurecimento espiritual é atingido de forma mais marcante. Nesta
perspectiva, o marinheiro precisa ter uma postura estoica, aceitando as
adversidades advindas do oceano, as quais, são imprescindíveis para torná-lo
mais sábio e resiliente. Ademais, o pescador poderia cair num tédio existencial
se navegasse exclusivamente nas águas serenas de uma baía. O tempo ensinou ao
pescador a contingência de nunca se acomodar nos períodos marcados por ventos
favônios, pois, a qualquer momento, há no horizonte a possibilidade de mudança
abrupta nas condições de navegação. Enfim, admirável pescador, nos mares
tranquilos se prepare para enfrentar as tempestades e após a árdua travessia, saiba
que sairá mais forte e sábio para lidar com a imprevisibilidade concernente ao
terrível e magnânimo oceano. Portanto, todo ser humano é o navegante dos mares
da incerteza...
(Tosta Neto, 16/08/2025)


0 comments: