Ontem
fui questionado em um grupo de WhatsApp,
desses com professores e alunos, sobre a conduta do Bolsonaro e seus assessores
ao tomarem simultaneamente um copo de leite em uma de suas lives de quinta-feira. O questionamento foi seguido pela ressalva
do ato ser associado ao simbolismo entre leite e supremacistas brancos e sua
repercussão nas redes sociais.
Passei
os olhos rapidamente na rede e verifiquei que o assunto de fato “bombava”. Não
faltavam detratores para a ação do presidente, nem tão poucos alarmistas de
mais uma teoria da conspiração. Mesmo os que escamoteavam suas ideologias
inflexíveis, aqueles que costumeiramente usam palavras rebuscadas, citações
pompeadas e dados distorcidos ou anacrônicos, não conseguiam disfarçar seu
malabarismo intelectual para polemizar o insignificante. Era fato, o fundamentalismo
partidário, mais uma vez, estabelecia um novo front de guerra, mais uma
trincheira da guerra desvairada, pestilenta e, especialmente, improdutiva entre
extremistas. Era a mesma percepção caótica de sempre: os bobões e as suas
baboseiras.
Certamente
que meu primoroso pupilo e seus notáveis colegas não iriam ficar sem resposta: “Infelizmente estamos vivendo em uma época
de fundamentalistas partidários. Um período onde o discurso e as atitudes não
são importantes, mas sim quem os fez. É a famosa guerra de narrativas associada
à indignação seletiva. Mistura bombástica. Efeitos deletérios. Ascensão dos
extremistas. Já vimos este filme...
O simbolismo faz parte
das estruturas sociais como propagandas, religiões, fraternidades... É
linguagem não verbal. E como tudo, pode ser usado tanto para o bem quanto para
o mal. A grande questão ao analisar o símbolo é o analisador. Exemplo, a Cruz
era um instrumento de tortura romana e depois se tornou um símbolo cristão;
para os críticos do cristianismo essa é a prova cabal da relação dessa religião
com a punição, com a dor e com a morte. Para o cristão uma referência ao
sacrifício divino em prol da humanidade, da superação da morte, da vitória do
amor. E aí, quem tem razão? Ou melhor, qual a linha da análise você é adepto?
Sacou? Em suma, desgraçadamente, a verdade social é circunstancial e o correto
é o lado ao qual a pessoa se posiciona.
Feito tais observações,
acredito que o consumo do leite na live não faz a menor diferença. Os
Bolsonaristas viram uma celebração do agronegócio e o sucesso que a indústria
brasileira de lacticínios alcançou, enquanto os anti-Bolsonaristas viram uma
mensagem velada de um supremacista branco. Resumindo: para determinadas dúvidas
não há resposta concreta, mas nunca faltarão especulações! ”
Se
pudesse voltar no tempo, apenas complementaria meu texto com uma inspiração que
partiu do Antoine de Saint-Exupéry: para
enxergar claro é preciso olhar para diversas direções.
(Ricardo
Sampaio, 01/06/2020)
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