terça-feira, 20 de outubro de 2020

A VIRADA EM TRÊS CORES: MAIS UMA NOITE DE TRIUNFO DE DAVI (GEISSON PEIXOTO)

Caro leitor, não falemos de tática, de 4-4-2 ou 4-3-3, de marcação alta ou baixa, jogo apoiado etc., mas apenas de um singelo relato da partida que explodiu de alegria corações pintados em três cores. Era o clássico Davi contra Golias. Era o abastado contra o faminto, o poderoso contra o esfarrapado que lambe as feridas aos olhos de todos.

Estádio de Pituaçu, Salvador, Bahia, Campeonato Brasileiro da Série A, 17ª rodada. De um lado o Atlético Mineiro, líder do torneio no começo da rodada, do outro, o Bahia, porteiro da zona de rebaixamento. No primeiro tempo tudo transcorreu como esperado, com o Atlético “amassando” impiedosamente o time nordestino. O Galo de Minas tomou conta da bola ao estilo do grande Barcelona de Guardiola (leitor, guarde as devidas proporções), fez 1 x 0 com o atacante Samarino, e passou a perder gols como água que escorre pelas mãos. O primeiro tempo terminar por um placar tão magro para os alvinegros foi quase um milagre dos deuses do futebol. O tricolor da boa terra nada fazia e pouco ameaçava.

Tudo indicava que no segundo tempo a história continuaria igual. O Atlético do badalado treinador Jorge Sampaoli permaneceu pressionando o Bahia, nada indicava que a cena mudaria, os gols dos mineiros parecia questão de tempo, mas estamos falando de futebol, uma das mais impressionantes metáforas da vida. E em um jogo épico, em uma virada inesperada e extraordinária, que começou com o gol de Daniel, em um lance na área depois do rebote do goleiro Everson. A equipe mineira, que até aquele momento dominava o jogo, assustou-se com o placar inesperado. Depois veio a virada com Gilberto, com um sangue frio ao estilo de Romário ou Ronaldo (mais uma vez, leitor, guarde as devidas proporções, hoje tudo será superlativo), driblou o zagueiro que vinha em um carrinho, deixando-o passar no sinal vermelho e, antes da chegada do arqueiro, com o gol vazio, virou o resultado para o tricolor baiano. Ainda houve o terceiro gol em uma infiltrada entre as linhas do time atleticano digna dos melhores atacantes e um chute preciso na saída do goleiro. O tricolor baiano ainda perdeu gols que poderiam ter transformado a virada ainda mais épica, sobrenatural. Na Bahia de Todos os Santos, todos os santos do futebol ajudaram o Bahia. Daniel se transformou no grande Douglas, craque do clube nos anos 70, e Gilberto encarnou Beijoca, o polêmico, temperamental e artilheiro tricolor dos anos 70 e 80. O triunfo de hoje mereceria um Homero, um Tolstói ou um Nelson Rodrigues para ser contado.

Não se sabe o futuro do Bahia na competição, certamente continuará a sua sina na luta contra o rebaixamento, e o Atlético Mineiro ainda estará a desfilar o seu bom futebol nos campos do Brasil que permitirá estar nas primeiras colocações do campeonato; mas hoje, o todo poderoso foi o tricolor baiano e o derrotado passou a ser o clube de Minas. Mais uma vez, como nas escrituras, Davi venceu Golias. O triunfo de hoje mereceria uma estrela ao lado das outras duas que o Bahia possui em seu escudo, nem que fosse da cor de bronze, nem que fosse até o início do próximo jogo quando tudo começará novamente.  Esta segunda-feira (19/10) adquiriu a alegria de uma bela noite de Carnaval, o hino tricolor virou uma nova Marselhesa e Gilberto encarnou Napoleão Bonaparte. Incrível o que uma partida de futebol não faz, se assim não fosse, não seria futebol.

(GEISSON PEIXOTO ARAÚJO, 19/10/2020)

 

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