No
século XXI, não há um técnico tão influente na ciência dos esquemas táticos como
Josep Guardiola. Desde a estreia no time principal do Barcelona na temporada
2008-2009, o treinador catalão vem ganhando taças em escala industrial. O
estilo de Guardiola se transformou em sinônimo de futebol vistoso e
competitivo; até os mais leigos na literatura do esporte mais popular do
planeta, intuem que seu molde de jogo flerta com o “Futebol Arte”. O padrão
Guardiola teve como consequência o estabelecimento de propostas táticas
(antídotos) para anulá-lo; eis alguns exemplos: a Inter de Milão (2010) de
Mourinho na semifinal da Champions League apresentou um sistema
defensivo insano, celebrizado com o apoio de Eto’o na lateral; o Liverpool de
Klopp com o gegenpressing (perde-pressiona), tirou o time de Pep da zona
de conforto, obtendo vitórias contundentes na Liga dos Campeões e na Premier
League.
É
evidente que Guardiola não fizera uma grande revolução tática, porém aprimorou
padrões, haja vista o modelo implantado por Johan Cruyff no Barcelona. Numa
entrevista, Pep revelou que não sabia nada de futebol até ser treinado pelo
gênio holandês. De forma explícita, Guardiola é discípulo de Cruyff, este por
sua vez, seguiu os passos de Rinus Michels, o qual foi eleito pela FIFA e pela
renomada revista France Football como o maior técnico de todos os
tempos. Na década de 70, Michels revolucionara o paradigma futebolístico com o
conceito de “Futebol Total”, consumado pela Holanda na Copa do Mundo (1974),
seleção nostálgica liderada por Cruyff, Rensenbrink e Neeskens. Este modelo
consistia numa veemente posse de bola e, na marcação, os atletas não tinham um
posicionamento fixo, efetuando uma blitzkrieg para recuperar
imediatamente a pelota. A intencionalidade do técnico holandês era ter o
controle total do jogo. No Mundial de 74 na Alemanha, os adversários ficaram
perplexos perante um estilo de jogo tão caótico e avassalador. “Infelizmente”,
a Holanda perdeu a final para os donos da casa por 2 x 1, em contrapartida, tal
revés não apagou a maior revolução tática na história do futebol.
Após
comandar o Barcelona B, Guardiola assumiu a equipe de cima; na primeira temporada,
conquistou todos os títulos possíveis. Aquele Barcelona 2008-2009, expôs certos
conceitos da Laranja Mecânica de Michels, como a posse de bola
exacerbada e a troca de passes curtos. Contudo, havia uma diferença na
marcação: o Barça defendia com um posicionamento fixo, cujo cada jogador
ocupava o seu espaço. A engrenagem catalã “afinada” no 4 – 3 – 3, funcionava
como uma orquestra, composta por craques do naipe de Messi, Xavi, Iniesta e
Busquets. O tiki-taka, evolução tática do Carrossel Holandês,
continuou a imperar no Barça, culminando no triunfo de mais uma Champions
League em 2011. Subsequente a quatro anos frenéticos de trabalho, Guardiola
se despediu do Barcelona com o status de maior técnico da história do clube
blaugrana.
(Tosta
Neto, 17/06/2023)
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