Totalitarismo, conceito
abordado com brilhantismo pela grande filósofa Hannah Arendt, na obra clássica Origens
do totalitarismo. Por ser um artigo de extensão lacônica, não temos a
intenção de engendrar uma reflexão filosófica e histórica sobre o totalitarismo:
desejamos tão somente demonstrar a sua permanência e as devidas transmutações
na contemporaneidade.
O século XX nos
mostrou o quão os regimes totalitários (fascismo, socialismo e nazismo), foram
experiências terríveis que aniquilaram milhões de pessoas. Apesar dos pesares,
em pleno século XXI, a humanidade não aprendeu a lição e continua repetindo as
mazelas de outrora. Se não bastasse o descompromisso com o aprendizado, fanáticos
ainda defendem de forma fervorosa tais regimes. Notadamente, a cegueira
ideológica é uma praga que está longe de ser extirpada: maldito aquele que
coloca a ideologia como um paradigma ético.
O despertar do terceiro
milênio não foi suficiente para apagar a chaga supracitada, pois o
totalitarismo está vivo nas mentes e nos corações dos asseclas do extremismo. O
modus operandi totalitário se adaptou à dinâmica das redes sociais, haja
vista, a prática nociva do cancelamento àqueles que não seguem a cartilha da
patrulha ideológica. Os justiceiros virtuais não aceitam o contraditório,
afinal, desejam com ardor a consumação de um sistema ideológico hegemônico.
Qualquer indivíduo que venha a emitir uma opinião divergente, de imediato,
sofre uma saraivada de xingamentos e impropérios. Em determinados casos, por
intermédio do leviatã estatal, tal antagonista tem a sua existência virtual
vaporizada.
Os extremistas de
plantão se autodenominam os defensores da democracia, além de ostentarem a
pecha de pessoas puras e infalíveis, portanto, todos os seus atos são
chancelados por uma causa nobre de matiz ideológica. A observação nos revela
que estes fanáticos têm um método. Primeiramente, eles desqualificam de maneira
implacável os seus opositores com uma série de adjetivos: fascistas, nazistas,
machistas, racistas, burgueses etc. Esta prática tem como objetivo desumanizar
o outro, tornando-o um ser desprezível e, por tabela, levando ao assassinato de
sua reputação.
Consoante a
perspectiva do parágrafo anterior, a humanidade do opositor é totalmente
esvaziada, resultando na conversão do mesmo em uma “coisa” que não tem a mínima
importância no mundo, por conseguinte, qualquer ato contra ele é considerado
legítimo, inclusive o homicídio. Eis que surge a nefasta justificativa para a
eliminação física: “Mas, ele era um fascista, um retrógrado, um burguês…”.
Não esqueçamos do comportamento detestável de militantes de esquerda que
comemoraram efusivamente nas redes sociais o assassinato do ativista
conservador Charlie Kirk; a propósito, com toda a hipocrisia, a militância
esquerdista se arvora como paladina da pluralidade e entusiasta da tolerância,
todavia, tamanha percepção só é válida entre seus pares. Enfim, nesta era
relativista e ideológica, o fanatismo, a indignação seletiva, o cinismo e a inclemência
superam o senso de humanidade e altruísmo, instigando-nos a concluir que não há
no horizonte a possibilidade de mudança nos ventos do totalitarismo.
(Tosta Neto, 19/10/2025)


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